Lançado originalmente para o PlayStation 3 em 2013, The Last of Us tornou-se um dos maiores sucessos da história da marca PlayStation, o que fez com o que o título chegasse também ao PlayStation 4 em forma em uma versão remasterizada e no PlayStation 5 com um remake.

Desenvolvido pela Naughty Dog, o jogo ganhou uma sequência que acabou superando seus feitos. The Last of Us Part II teve uma recepção melhor que seu antecessor entre os críticos e entre grande parte dos jogadores, tornando-se o jogo mais premiado da história.

Para expandir a franquia em outras mídias, a Sony se juntou com a HBO na busca de "quebrar a maldição das adaptações de games", levando para o campo das séries uma obra que já tinha grande foco em narrativa. Como sempre, a produção da HBO esbanjou qualidade em muitos aspectos técnicos, mas infelizmente deixou a desejar no ritmo e na hora de decidir o quanto desejava ser fiel ao conteúdo original.

A fidelidade que não se define

Os fãs do jogo desenvolvido pela Naughty Dog certamente encontram muitos momentos extremamente fiéis na série da HBO, com a produção reproduzindo em uma nova mídia exatamente o que havia sido visto anteriormente no game. Tal ponto é positivo quando você interpreta que se algo deu extremamente certo, não é necessário mudar ou cortar, certo?

No entanto, a extrema fidelidade de The Last of Us se perde em alguns momentos nos quais a adaptação rasga o que foi visto no conteúdo original e resolve andar com os próprios pés de maneira drástica. É importante lembrar que uma adaptação sempre pode encontrar espaço para mudanças e inovações, afinal, nem tudo funciona em diferentes mídias e certas ideias podem se tornar ainda melhor com as pinceladas certas.

Imagem: HBO/Reprodução
Imagem: HBO/Reprodução

O problema aqui é que a adaptação entrega um contraste muito forte entre ser fiel ou não, e muitas vezes essa diferença acaba apresentando grande dificuldade para se encaixar de uma maneira geral. Na mesma medida em que episódios aproveitam muito bem o conteúdo original e outros usam a ideia geral com ótimas mudanças, outros episódios parecem apresentar cortes e seguir por um caminho que não se encaixa com o ritmo restante do show, o que pode tornar tudo menos interessante ou até mesmo tirar o impacto e importância de diversos momentos.

A série não consegue encontrar seu ritmo

Neste cenário que apresenta um conflito entre ser ou não ser fiel, a HBO já arma armadilhas contra si mesma para encontrar muita dificuldade na hora de conseguir encontrar um ritmo interessante para a sua adaptação. Enquanto a diferença proposta pela fidelidade indefinida tira por si só o ritmo da produção e faz com que você não saiba de fato o que esperar, outros elementos e decisões questionáveis acabam agravando o problema que se torna o maior tropeço da série.

Durante seus nove episódios, The Last of Us parece não ser capaz de definir que tipo de série deseja ser, e em muitos momentos se aproxima de um retalho ou uma espécie de "melhores momentos". Entregando muitas cenas que funcionam por conta própria e apresentam bastante qualidade, a série vê estes mesmos momentos positivos perdendo força devido ao conteúdo como um todo. Fica a sensação de que forma geral a obra é muito corrida e não consegue desenvolver bem o material que apresenta, o que inclui desfecho de personagens e outros acontecimentos que deveriam ter mais peso em tela.

Um bom exemplo da falta de ritmo de The Last of Us é justamente um de seus melhores episódios. O terceiro episódio da temporada, focado em Bill, conta com um roteiro primoroso e extremamente potente, capaz de emocionar e impactar o público com seus minutos finais, após a adaptação entregar um desenvolvimento excelente de personagens e relação. No entanto, o episódio parece funcionar como um spin-off, algo derivado, que não se encaixa com o restante seja por não contribuir para o avanço da trama principal ou por apresentar características narrativas e outros elementos completamente diferentes do restante dos episódios.

Neste episódio vemos também o conflito entre querer ser uma adaptação fiel ou não, pois o show poderia ter mantido a expansão de conteúdo que fez ao entorno de Bill e encontrado também uma maneira de ligar tudo ao restante da trama, mas optou por seguir um caminho que parece não fazer muito sentido e acaba afastando muito este arco do enredo principal.

A falta de ação e urgência

The Last of Us nunca foi apenas sobre infectados, é verdade. O jogo da Naughty Dog sempre teve a narrativa como um de seus principais pontos, narrativa esta que inclusive serviu para tornar muito mais interessante uma trama que tinha tudo para ser bastante genérica e clichê no gênero.

No entanto, não é possível negar que parte do sucesso de The Last of Us também é devido ao fato do título apresentar uma grande dose de tensão, ação e urgência durante a jornada de Joel Ellie. Certamente é impossível levar para uma série o mesmo tipo de ação que vemos em um videogame, já que parte disso se deve ao gameplay, mas a adaptação peca ao se desfazer de maneira questionável de toda sua tensão.

Imagem: HBO/Reprodução
Imagem: HBO/Reprodução

Os infectados são deixados totalmente de lado em quase toda a temporada, e a sensação de urgência é praticamente inexistente. No entanto, devemos lembrar que a jornada de Joel e Ellie só está acontecendo pois ambos acreditam que a garota pode ser a cura para a humanidade, o que faz com que a decisão de descartar quase que totalmente a ameaça dos infectados tire o impacto da jornada e diminua sua importância.

Além da série carecer de momentos com infectados unicamente pelo fato de que um pouco mais de ação e tensão seriam algo ótimo para o ritmo geral, a decisão também acaba tirando grande parte da urgência da jornada de Joel e Ellie, com a adaptação perdendo a chance de demonstrar o quanto a jornada de ambos é necessária para a humanidade como um todo... os infectados não parecem uma ameaça que faça com que os riscos da jornada sejam justificados.

Ótimas atuações e outros acertos

Embora Joel e Ellie do jogo ainda sejam as versões definitivas dos personagens, a série entrega ótimas atuações. Pedro Pascal conseguiu encontrar o tom necessário para ser Joel e novamente realizou um trabalho de destaque em sua carreira, enquanto Bella Ramsey teve mais problemas com sua personagem. A jovem atriz dá show de atuação e mostra que é um dos nomes mais promissores da atualidade, no entanto o roteiro parece não contribuir para que Ramsey seja Ellie de fato, com a personagem sendo menos carismática aqui do que é no jogo.

Imagem: HBO/Reprodução
Imagem: HBO/Reprodução

Assim como o resto do elenco também entrega atuações de ponta, The Last of Us ainda vê acertos que já se tornam padrão nas produções da HBO, incluindo direção. Efeitos especiais e maquiagem novamente entregam o ápice que vemos na televisão, o que fica bastante evidente nos poucos momentos de destaque para os infectados.

O veredito

Com momentos de brilho, como os episódios 3 e 5, The Last of Us desperdiça seu potencial ao tropeçar em seu ritmo. Sem definir se buscava a fidelidade extrema ou um caminho próprio, a adaptação se perde ao entregar decisões questionáveis de roteiro.

Pedro Pascal e Bella Ramsey estão brilhantes, e são acompanhados por um ótimo elenco, mas veem seus desempenhos afetados pela dificuldade que a produção tem para desenvolver momentos que deveriam ser muito mais impactantes.

Nota: 6/10