O 5G oferece uma melhoria de pelo menos dez vezes no desempenho da rede. A última grande atualização de rede foi 4G, que estreou em 2009, com uma velocidade de cerca de 10 Mbps. Em comparação, o 5G está pronto para fornecer velocidades com picos entre 10 e 20 Gbps. E a latência de rede cairá de 30ms para cerca de 1ms, ideal para streaming de videogames, vídeo online e Internet das Coisas, que prevê o 5G para conectar sensores, computadores e outros dispositivos com latência ultrabaixa. Mas uma preocupação quanto à essa maravilhosa tecnologia é a radiação que ela emitirá, e se põe nossa saúde em risco.

Uma evolução de preocupações

A hipersensibilidade eletromagnética, por exemplo, é uma doença hipotética, na qual certas pessoas experimentam sintomas debilitantes na presença de radiação, como telefones celulares e Wi-Fi - então, sim, o comportamento bizarro de Michael McKean em "Better Call Saul" é uma coisa real. 

Mas, apesar das pessoas afirmarem tais sensibilidades por pelo menos 30 anos, revisões científicas sistemáticas descobriram que as vítimas não sabem "sentir" quando estão na presença de um campo eletromagnético, e a Organização Mundial de Saúde recomenda a avaliação psicológica para essas pessoas.

Da mesma forma, décadas de estudos não encontraram nenhuma ligação entre telefones celulares e câncer, como tumores cerebrais, embora isso não tenha impedido municípios como São Francisco/USA, de aprovar leis exigindo que as lojas exibissem a radiação emitida pelos aparelhos - o que faz com que os consumidores acreditem que estão correndo um risco.

Quão perigosa é a radiação de radiofreqüência?

Na raiz de todas as preocupações sobre as redes de telefonia celular, está a radiação de radiofrequência (RFR). A RFR é qualquer coisa emitida no espectro eletromagnético, desde microondas a raios X, ondas de rádio, luz do monitor ou luz do sol. Claramente, a RFR não é inerentemente perigosa, então o problema torna-se descobrir sob quais circunstâncias ela pode estar.

Os cientistas dizem que o critério mais importante sobre se um determinado RFR é perigoso se ele entra na categoria de radiação ionizante ou não ionizante. Simplificando, qualquer radiação que não seja ionizante é muito fraca para quebrar as ligações químicas. Isso inclui ultravioleta, luz visível, infravermelho e tudo com uma frequência menor, como ondas de rádio. Tecnologias cotidianas como linhas de energia, rádio FM e Wi-Fi também se enquadram nessa faixa. (As microondas são a única exceção: não-ionizantes, mas capazes de danificar o tecido). Frequências acima do UV, como raios X e raios gama, são ionizantes.

Dr. Steve Novella, professor assistente de neurologia em Yale e editor da Science-Based Medicine, entende que as pessoas geralmente se preocupam com a radiação. 

"Usar o termo radiação é enganoso, porque as pessoas pensam em armas nucleares - elas pensam em radiação ionizante, que pode causar danos. Pode matar células. Isso pode causar mutações no DNA. Mas como a radiação não ionizante não causa danos no DNA ou nos tecidos, a maior preocupação sobre a RFR dos telefones celulares é equivocada. Não há mecanismo conhecido para a maioria das formas de radiação não ionizante ter um efeito biológico".

Estudos não são claros

Não é só porque não há nenhum mecanismo conhecido para a radiação não ionizante ter um efeito biológico, que seja completamente seguro ou que não exista nenhum efeito. De fato, os pesquisadores continuam a realizar estudos. Um estudo recente foi divulgado pelo Programa Nacional de Toxicologia dos Estados Unidos. Neste estudo amplamente citado sobre radiação de radiofreqüência de telefones celulares, cientistas descobriram que a alta exposição a RFR 3G levou a alguns casos de tumores cardíacos cancerígenos, tumores cerebrais e tumores nas glândulas supra-renais de ratos machos.

O estudo é uma boa lição sobre como é difícil fazer ciência assim. Como destaca o RealClearScience, o número de tumores detectados era tão pequeno que, estatisticamente falando, poderia ter ocorrido por acaso (o que pode ser mais provável, uma vez que foram detectados apenas em indivíduos do sexo masculino). Além disso, o nível e a duração da exposição à RFR estavam bem acima do que qualquer humano real jamais seria exposto, e de fato, os ratos testados pela radiação viveram mais tempo do que os ratos não expostos. Segundo o Dr. Novella, "Pesquisadores experientes olham para um estudo como esse e concluem que esta radiação não parece ter riscos."

Avaliando os riscos da 5G

Deixando de lado os estudos, a 5G está chegando e, como mencionado, há preocupações sobre essa nova tecnologia. Uma queixa comum sobre o 5G é que, devido à menor potência dos transmissores 5G, haverá mais deles. O Environmental Health Trust afirma que "o 5G exigirá a construção de milhares de novas antenas sem fio pelas cidades. Uma pequena célula deve ser colocada a cada dez casas, de acordo com as estimativas."

Dr. Novella diz que "O que eles estão querendo dizer é que a dose será maior. Teoricamente, essa é uma pergunta razoável a ser feita. "Mas os céticos advertem que você não deve confundir a pergunta com apenas afirmar que há um risco". Como Novella salienta, "Você sai ao sol e é banhado por uma radiação eletromagnética que é muito maior do que essas torres 5G".

É fácil encontrar argumentações na internet que acreditam que a maior frequência das ondas do 5G por si só constitui em um risco. O RadiationHealthRisks.com observa que "O 1G, 2G, 3G e 4G usam entre 1 a 5 gigahertz de freqüência. O 5G usa uma freqüência entre 24 a 90 gigahertz", e então afirma que" Dentro da porção de radiação RF do espectro eletromagnético, quanto maior a freqüência, mais perigoso é para organismos vivos".

Mas afirmar que a frequência mais alta é mais perigosa é apenas uma afirmação, e há pouca ciência real para apoiar essa ideia. O 5G permanece não ionizante por natureza.

A FCC - Federal Communications Commission, a agência reguladora de telecomunicações dos Estados Unidos, responsável por licenciar o 5G para uso público - também contribui neste debate. Segundo Neil Derek Grace, oficial de comunicações da FCC, "para equipamentos 5G, os sinais de transmissores sem fio comerciais estão normalmente muito abaixo dos limites de exposição a RF, em qualquer local que seja acessível ao público." 

Em 2011, a Organização Mundial da Saúde classificou a Radiação RF como um agente do Grupo 2B, que é definido como "Possivelmente cancerígeno para os seres humanos." Mas segundo Novella, é preciso ponderar: "É preciso levar em conta todas as outras coisas que eles classificam como um possível agente cancerígeno. Eles colocam na mesma classe de risco a cafeína. Isso é um padrão tão fraco que basicamente não significa nada. É como dizer tudo causa câncer".

Parte do problema com a declaração da OMS é que ela está focada no perigo, não no risco - uma distinção sutil freqüentemente perdida entre não-cientistas. Quando a OMS classifica café como possível agente cancerígeno, está afirmando perigos sem considerar o risco do mundo real. Explica Novella, "Uma pistola carregada é um perigo porque, teoricamente, pode causar danos. Mas se você bloqueá-lo em um cofre, o risco é insignificante".

Os cientistas continuarão testando novas redes, à medida que a tecnologia evolui, para garantir que estejamos seguros. Recentemente, em fevereiro, o senador norte-americano Richard Blumenthal criticou a FCC e a FDA por pesquisas insuficientes sobre os riscos potenciais da 5G. Como mostra o estudo do NTP, a pesquisa sobre os riscos de radiação é difícil e muitas vezes inconclusiva, o que significa que pode levar muito tempo para se fazer um progresso real.

Mas, por enquanto, tudo o que sabemos sobre as redes 5G nos diz que não há razão para se alarmar. Afinal, existem muitas tecnologias que usamos todos os dias com um risco mensurável substancialmente maior.