O governo brasileiro está cada vez mais convencido de que a recente tarifa de 50% imposta por Donald Trump a produtos do Brasil não tem como alvo principal Jair Bolsonaro, mas sim os interesses de gigantes da tecnologia como Google, Meta e outras big techs. Para o presidente Lula, essa medida tem como pano de fundo uma tentativa de pressionar o país a recuar na regulação das plataformas digitais.

Bolsonaro vira "boi de piranha" em disputa global

A avaliação no Palácio do Planalto é que Bolsonaro foi usado como uma espécie de "boi de piranha" para abrir caminho a um ataque político ao Supremo Tribunal Federal (STF), que vem liderando as discussões sobre a regulação das redes sociais no Brasil. Segundo um assessor de Lula, essa narrativa facilita a retórica contra o Judiciário brasileiro, especialmente quando o Congresso ainda não se posicionou claramente sobre o tema.

Fontes próximas à presidência identificam três possíveis frentes por trás do conflito com os EUA: Bolsonaro, os Brics — bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul — e as big techs. A hipótese mais forte é a de que as grandes empresas de tecnologia estariam incomodadas com os avanços do Brasil na tentativa de criar regras claras para o ambiente digital, incluindo cobrança de impostos e regulação de conteúdo.

Trump acusou o STF de censura em carta enviada ao Brasil. Imagem: Reprodução
Trump acusou o STF de censura em carta enviada ao Brasil. Imagem: Reprodução

A situação se agravou após Trump enviar uma carta ao governo brasileiro, criticando diretamente o STF e classificando decisões sobre plataformas digitais como "censura". O ex-presidente norte-americano também mencionou o caso de Bolsonaro, chamando o processo de uma "caça às bruxas".

Para Lula, a resposta será firme:

Todas as empresas, inclusive as digitais americanas, vão ter que pagar impostos no Brasil. Este é um país soberano."

— afirmou o presidente durante um evento em Goiânia.

Itaipu também entrou no radar

Outro elemento que chamou a atenção do governo brasileiro foi o interesse repentino dos EUA pela energia excedente da hidrelétrica de Itaipu. Segundo investigações da ABIN, os americanos estariam incentivando o Paraguai a vender essa energia para data centers de empresas de tecnologia, rompendo o atual acordo de exclusividade com o Brasil.

Usina de Itaipu. Imagem: Reprodução
Usina de Itaipu. Imagem: Reprodução

O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, inclusive declarou publicamente que a Casa Branca considera a energia de Itaipu essencial para alimentar infraestruturas ligadas à inteligência artificial, o que na prática significa: big techs.

Governo prepara reação com impostos e nova regulação

Lula já anunciou que vai cobrar impostos das empresas digitais estrangeiras, e o governo avalia diferentes caminhos para isso. Um deles seria a criação de uma taxa digital inspirada em modelos adotados pela União Europeia e pelo Canadá, cobrando por receitas com anúncios, dados e serviços online.

Outra opção mais imediata seria aplicar a CIDE (Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) sobre essas empresas, mecanismo que não depende de aprovação do Congresso.

Além disso, dois projetos de lei estão sendo preparados para criar regras mais claras para o funcionamento das plataformas digitais no Brasil. A ideia é ter um "código de defesa do consumidor online", que proteja os usuários de abusos nos termos de uso, algoritmos opacos e desinformação.

Com informações de g1