Dead Space, o original lançado em 2008, é com toda certeza um dos maiores clássicos do survival horror. Com muita qualidade, o jogo estreou uma franquia que se consolidaria no gênero nos anos seguintes, embora a chegada do terceiro título tenha sido turbulenta com o jogo ficando abaixo de seus antecessores.

Agora, em um momento no qual a indústria atravessa uma avalanche de remakes, Dead Space retornou nas mãos da Motive para tentar repetir os seus primeiros acertos, voltando ao caminho certo enquanto parece haver muito em jogo. Em caso de sucesso, novos remakes são totalmente possíveis, enquanto até mesmo sequências devem voltar ao radar da EA, a publisher.

No cenário atual, muitos remakes chegam para aprimorar jornadas, atualizando grandes jogos com as possibilidades do avanço da tecnologia. Às vezes os títulos até mesmo parecem superar os lançamentos de origem, como é o caso do excelente remake de Resident Evil 2. Por outro lado, vemos também remakes que não fazem jus ao título que tentam recuperar, enquanto outros parecem totalmente desnecessários, sem melhorias ou avanços que justifiquem a própria existência. Felizmente, Dead Space Remake é um dos bons exemplos.

A USG Ishimura é inóspita e aterrorizante (Imagem: Gregory Felipe/Oficina da Net)
A USG Ishimura é inóspita e aterrorizante (Imagem: Gregory Felipe/Oficina da Net

Os horrores da USG Ishimura ganham mais peso

Em 2508, a USG Ishimura, uma nave mineradora da corporação CEC, envia um sinal de socorro pouco antes de ficar incomunicável, fazendo com que cinco pessoas sejam enviadas para descobrir o que está acontecendo. Isaac Clarke, o protagonista do título, faz parte do pequeno grupo e está em busca de Nicole Brennan, sua namorada, que trabalhava na USG Ishimura.

Enquanto a trama de horror espacial é claramente inspirada por títulos como Alien, o remake segue exatamente o mesmo ritmo e acontecimentos do jogo original, apesar de algumas novidades, para arremessar o jogador no meio do terror em questão de minutos. Rapidamente você se vê em uma situação desesperadora, e assim se inicia a jornada de Isaac Clarke.

Um dos grandes trunfos do remake é dar voz a um personagem que antes era mudo. Se no título original Isaac não falava uma palavra sequer, aqui o personagem interage com seus companheiros, reage aos horrores que presencia e não é mais apenas um "garoto de tarefas". Se antes o protagonista apenas ouvia ordens e obedecia, agora muitas vezes é ele quem debate planos e oferece soluções, inclusive ganhando assim um peso maior como herói, pois muitas vezes dá grandes demonstrações de heroísmo para resolver situações complicadas.

Com a trama original já sendo interessante, aqui a narrativa se torna ainda mais competente seja pelo maior dinamismo oferecido por contar com um protagonista falante, ou até mesmo pela escolha de dar mais importância para outros personagens. No remake, o enredo parece se desenvolver de uma maneira muito mais natural, além da história envolver ainda mais o jogador, permitindo que seja mais fácil criar laços com protagonista e se solidarizar enquanto o mesmo enfrenta os horrores da USG Ishimura.

Isaac agora tem muito mais peso e carisma (Imagem: Gregory Felipe/Oficina da Net)
Isaac agora tem muito mais peso e carisma (Imagem: Gregory Felipe/Oficina da Net)

Plano sequência

Outro trunfo do jogo, e por aqui temos muitos, é o fato do título adotar o plano sequência, assim como é visto nos lançamentos mais recentes da franquia God of War. Com Ishimura agora sendo toda conectada, se mover pela nave gigantesca é muito mais livre e não exige telas de carregamento, aliás, não existem telas de carregamento em nenhum momento do jogo.

Seja utilizando o monotrilho ou explorando Ishimura a pé, você pode ir e voltar pelos corredores e salas da nave, com o título oferecendo até mesmo uma exploração mais convidativa devido a elementos como missões secundárias e salas opcionais que só podem ser desbloqueadas após o jogador alcançar alguns requisitos.

Agora possuindo cutscenes muito bem trabalhadas e muito bem executadas, que dão ainda mais peso para momentos chaves da trama, Dead Space também começa e termina esses momentos sem a necessidade de qualquer corte, os misturando com o gameplay de maneira muito interessante. Assim, tirando as possíveis mortes do jogador, o título não apresenta cortes em momento algum.

Tensão sem fim

O jogo lançado em 2008 já havia conseguido entregar uma das atmosferas mais intimidadoras da história do gênero, impulsionado por uma excelente direção de arte e o excelente design de áudio. No remake, os acertos foram aprimorados com o melhor uso possível da tecnologia atual. Inclusive parece impossível falar de Dead Space sem valorizar seu design de áudio, com tal elemento sendo mais um dos grandes trunfos da obra... como falei, são muitos.

Explorar cada ambiente da nave traz incontáveis sons, dos mais variados do tipo, que surgem e desaparecem de maneira natural. Enquanto o áudio oferece horrores, a aleatoriedade entregue pelo remake torna cada momento ainda mais repleto de tensão, já que os desenvolvedores preparam um gerador de eventos que serve para apresentar surpresas em cada sala e canto da nave, tornando assim a exploração pela Ishimura bastante imprevisível e fazendo a nave se tornar um local realmente inóspito.

Explorar a USG Ishimura é amedrontador (Imagem: Gregory Felipe/Oficina da Net)
Explorar a USG Ishimura é amedrontador (Imagem: Gregory Felipe/Oficina da Net)

A excelente iluminação, e outros elementos, formam um pacote completo de uma direção de arte que foi, novamente, absurda. Os necromorfos também aparecem como parte importante deste como de horror, é claro, sendo uma ameaça ainda mais brutal e aterrorizante. Agora, com um design superior, as criaturas se mostram mais monstruosas visualmente falando, enquanto também foram redesenhadas no que diz respeito a movimentos e ataques.

O jogo ainda conta com um ótimo sistema que entrega muitas camadas dos necromorfos, com o desmembramento sendo muito mais robusto. Agora, utilizar diferentes armas sempre resultará em diferentes tipos de morte para os inimigos. É possível vê-los derretendo com o fogo, sendo despedaçados com disparos ou até mesmo perceber pele, músculo e ossos sendo arrancados aos poucos, com a violência mudando de acordo com a arma utilizada.

Reimaginado, redesenhado e melhor

Dead Space Remake é um excelente exemplo de como reimaginar um remake sem tirar a essência do jogo original. Não existem aqui grandes mudanças que podem ser polêmicas, pois o título deu espaço apenas para as mudanças e inovações necessárias. Muitas dessas novidades são pequenas e simples, mas fazem uma enorme diferença no resultado final.

Por exemplo, as armas do remake são exatamente as mesmas do jogo original, porém todas foram redesenhadas e ganharam novidades que aprimoraram muito o combate do jogo, tornando a experiência ainda mais divertida. Com um balanceamento mais robusto, cada arma se mostra muito mais útil para momentos diferentes, o que incentiva o jogador a trocar constantemente de equipamento. Não há armas descartáveis, e o combate, que já era ótimo, está ainda melhor.

Além disso, agora você pode continuar com todas suas armas no inventário, diferente do remake onde algumas precisavam ficar no cofre. Ainda existe a limitação de equipar quatro equipamentos por vezes nos atalhos, mas existe liberdade para trocá-las em qualquer momento acessando o inventário do jogo.

A reimaginação melhorou momentos memoráveis (Imagem: Gregory Felipe/Oficina da Net)
A reimaginação melhorou momentos memoráveis (Imagem: Gregory Felipe/Oficina da Net)

Ainda falando em reimaginação, diversos momentos e ambientes do jogo foram repensados para que tudo funcionasse adequadamente com as novas mecânicas e possibilidades. O resultado disso é uma experiência ainda melhor, com momentos icônicos se mostrando ainda mais competentes aqui. Batalhas contra chefões são mais divertidas e melhor planejadas, momentos que antes eram muito básicos ganham agora mais profundidade de gameplay, e por aí vai.

Devo dizer que o fato de Isaac agora flutuar em gravidade zero, o que não era possível no original, é algo extremamente importante entre as novidades, sendo um elemento que torna muitos momentos ainda mais interessantes e memoráveis. Já na cinese, o jogo também reaproveita elementos de Dead Space 2, assim como fez com a gravidade zero, permitindo que agora seja possível empalar inimigos com objetos pontiagudos. Outra escolha certeira.

Pequenos problemas

Embora Dead Space Remake seja um jogo muito bonito, por vezes o visual deixa a desejar, ainda mais quando lembramos que se trata de um jogo exclusivo da atual geração, ou seja, um título que ignorou o PS4 e Xbox One com a ideia de atingir o potencial máximo.

Tanto o modo Qualidade quanto o modo Desempenho apresenta problemas, com o segundo sendo o mais afetado. Infelizmente, as texturas serrilhadas aparecem mais do que deveriam aqui.

Além disso, em alguns momentos o conservadorismo do jogo pareceu um pouco exagerado. Enquanto certos momentos parecem apresentar mudanças precisas na reimaginação, outros se mostram completamente fiéis ao conteúdo original, quando certamente poderiam se beneficiar das novas possibilidades do remake para entregar alterações interessantes.

O veredito

Dead Space Remake é um exemplo perfeito de como recriar um grande clássico. Se o título original já era um marco para o survival horror, o remake chega com o mesmo peso para o gênero. Com excelentes escolhas, os desenvolvedores aprimoraram o que já era excelente.

Há um grande respeito pela obra original, enquanto até mesmo os momentos com maiores mudanças ficam dentro do aceitável. Tudo o que foi modificado é acompanhado pelos motivos certos. A experiência é mais amedrontadora e mais robusta, assim como também é mais divertida e cativante. Dead Space Remake repete o que vimos a Capcom realizar com o remake de Resident Evil 2. Agora, conhecemos um novo clássico do survival horror.

Deep Space Remake
9.7
Prós
  • Excelente mixagem de áudio
  • Armas redesenhadas tornam o combate ainda melhor
  • Dar voz ao protagonista deixou a trama mais robusta
  • Eventos aleatórios tornam a USG Ishimura imprevisível
  • Respeita a obra original, mas reimagina da maneira certa
Contras
  • Visual deixa a desejar
  • Texturas por vezes são um problema
  • Conservadorismo pesou em alguns momentos