Chegando com badalação de triple A, Stray é um indie que despertou o interesse de muitos jogadores. Talvez parte desse interesse se deva ao fato do jogo ser day one no PS Plus, é verdade, mas tal fato não tira o brilho de um "pequenino" que conseguiu tamanho destaque entre gigantes. Enquanto nos aproximamos da reta final do ano, que promete ser avassaladora com diversos lançamentos de peso, principalmente no mês de outubro, Stray conseguiu buscar seu lugar ao sol e chegou com postura de gente grande.

O interessante é que, ao colocar-se no meio de títulos com investimento muito mais pesado e projetos de maior escopo, Stray não tropeça na própria ambição. Se o título chegou com badalação, ele tem o suficiente para deixar a sensação que a espera dos jogadores não foi um erro. Oferecendo uma jornada bastante rápida, o gato sofre seus tropeços, mas protagoniza uma aventura capaz de agradar.

Uma jornada simples, mas interessante (Imagem: Gregory Felipe/Oficina da Net)
Uma jornada simples, mas interessante (Imagem: Gregory Felipe/Oficina da Net)

Um mundo cyberpunk

Stray é ambientado em um futuro distópico cyberpunk, onde os humanos já não andam pelas ruas. Com humanos fora de cena, o jogo deixa seus holofotes em uma sociedade de robôs, que vive em uma sociedade totalmente exilada. Nesse cenário, Stray apresenta muitas perguntas e faz o jogador se questionar sobre elementos do enredo, como por exemplo o que aconteceu com os humanos ou até mesmo sobre como os robôs ganharam consciência própria. Felizmente, as perguntas mais importantes são respondidas, mas algumas ficam para trás.

Já no protagonismo do jogo surge justamente aquilo que serviu para dar destaque ao título, afinal, Stray é o famoso " jogo do gato". Colocando os jogadores no papel do felino, o título entrega uma jornada de um protagonista obviamente silencioso e não muito expressivo, mas sabe utilizá-lo da maneira certa para que o foco seja seu. Nessa jornada, você assume um papel pequeno, se sentindo minúsculo em diversos momentos, com tal fato oferecendo uma perspectiva interessante ao jogador, sendo um diferencial do título. Você não é alguém de destaque nesse mundo, você não consegue falar, você não é capaz de lutar e grande parte daqueles em sua volta não dão a mínima importância pra você, mas ainda assim a jornada se torna pessoal o bastante para despertar sentimentos no jogador e fazer com que o mesmo se envolva na aventura.

O mundo e os personagens de Stray são interessantes  (Imagem: Gregory Felipe/Oficina da Net)
O mundo e os personagens de Stray são interessantes (Imagem: Gregory Felipe/Oficina da Net)

Um enredo simples, mas que funciona bem

Como tudo no jogo, a trama de Stray é um tanto simples. Porém, aqui não temos uma crítica, mas sim um elogio. Se é verdade que a trama é simples e direta, também é verdade que ela se apresenta ao jogador de uma maneira muito fluida e bastante interessante. Não há enrolação em nenhum momento, tudo acontece rápido e os personagens aparecem de forma orgânica no desenrolar da aventura. Algo interessante é que, enquanto existe a estrutura principal, muitos dos personagens que aparecem aqui também apresentam suas próprias sub-tramas e motivações, ainda que isso não seja muito trabalhado. Essas motivações e sub-tramas próprias se iniciam e se resolvem de maneira rápida, sem que o jogador tenha de perder tempo tirando o foco do avanço na jornada. Um filho preocupado com seu pai, um robô que sente falta de seus amigos... ainda que os diálogos sejam sempre curtos e diretos, o jogo sabe entregar histórias próprias para tornar seus personagens interessantes.

Além disso, como já mencionei, esse mundo cyberpunk apresenta perguntas ao jogador, sabendo criar questionamentos e entregar mistérios. É interessante perceber como esses mistérios se resolvem também de maneira dinâmica e fluida, enquanto o avanço na trama parece bastante natural. É tudo muito simples, não há desenvolvimento aprofundado, mas o importante é que tudo também é muito bem feito, contribuindo para que a jornada seja satisfatória.

A jogabilidade tem seus problemas

Da mesma maneira que seu enredo é simples, Stray também conta com uma jogabilidade que não foge disso. No controle do gato, você tem pouquíssimas ações e não sente nenhum tipo de exigência para realizar os movimentos. Senti que nesse sentido o jogo poderia ter tentado ser um pouco mais variado, uma vez que seria interessante perceber um desafio um pouco maior para escalar, pular e realizar outros movimentos, já que o jogo é totalmente focado em ser um felino utilizando suas habilidades para realizar seu grande objetivo. A falta de desafio e de um pouco mais de complexidade parece ter deixado o jogo muito raso, correndo o risco de em alguns momentos tornar-se pouco prazeroso e menos interessante do que poderia ser.

Poderia exigir mais do jogador (Imagem: Gregory Felipe/Oficina da Net)
Poderia exigir mais do jogador (Imagem: Gregory Felipe/Oficina da Net)

Acredito que um botão de pulo seria essencial para o título, porém ele não existe. Para realizar saltos você deve pressionar um único botão nos lugares onde o jogo apresenta essa opção. Por vezes também senti que esse mesmo botão poderia ser evitado para realizar alguns movimentos como descer de objetos, em situações que mover apenas o analógico seria certamente muito mais interessante para o gameplay, mas a exigência do botão de ação acaba tirando a fluidez e tornando tudo mais travado do que deveria.

Puzzles são bastante simples

Os puzzles de Stray estão presentes em toda jornada, com tal elemento funcionando para o título. É verdade que não há grande desafio, todos os puzzles podem ser realizados em pouco tempo, sem exigir muito raciocínio do jogador. Porém, senti que a simplicidade para solução dos quebra-cabeças é essencial para que o jogo não se torne cansativo. Já que a jogabilidade não é das mais variadas, e poderia ser melhor, não ficar preso aos puzzles permite que o jogador tenha uma sensação de avanço satisfatório, enquanto soluciona os problemas de maneira simples e quase sempre divertida.

Ação e furtividade funcionam

Apesar de ser um jogo que foca mais na contemplação do que na ação, Stray também oferece algumas sequências de mais adrenalina para o jogador. Em certos momentos você é perseguido por inimigos que te matam rapidamente, então trechos de uma corrida desenfreada para fugir aparecem para dar uma sacudida na jornada. Em certa parte do jogo, você pode até mesmo utilizar uma espécie de arma, que te passa uma sensação um pouco maior de segurança, mas não chega a te colocar realmente em situações de combate.

Já a furtividade se mostra ainda mais interessante, também acompanhada pela simplicidade, é verdade. Nesses trechos, o jogo mostrou saber utilizar bem sua jogabilidade e as possibilidades oferecidas pelo protagonista para criar sequências divertidas e interessantes. Novamente o que temos aqui é o "simples sendo bem feito".

Ótimo visual e jogo bastante curto

Stray se destaca pelo seu visual, batendo de frente com muitos triple A que temos na atualidade. Com uma atuação muito grande aos detalhes, o jogo oferece cenários realmente impressionantes, que funcionam muito bem para uma jornada que é totalmente contemplativa. Sabendo criar ambientes cyberpunk, o título cria uma cidade que passa bem a mensagem de ser o lar de uma sociedade sem muita esperança, assim se aproveitando do visual para criar uma atmosfera que se encaixe com a trama.

O visual é ótimo (Imagem: Gregory Felipe/Oficina da Net)
O visual é ótimo (Imagem: Gregory Felipe/Oficina da Net)

Com esse ótimo visual, Stray entrega uma jornada extremamente curta que pode ser finalizada em torno de 3 horas pelos jogadores mais rápidos que tenham a intenção de "rushar" o título. Para aqueles que buscam ter mais calma na jornada, o título oferece algo entre 5 e 8 horas. É importante dizer que, pela falta de mais atividades e com a jogabilidade não tão interessante, o jogo pode perder parte de seu brilho e tornar-se um pouco mais cansativo caso você não tenha um foco maior em terminá-lo rapidamente, focando apenas no que interessa para encerrar sua jornada.

O veredito

Stray em alguns momentos se aproxima de tornar-se cansativo e pouco interessante, mas sabe driblar esses problemas com puzzles rápidos e divertidos de resolver, além de entregar uma trama bem contada que torna a jornada mais satisfatória. A jogabilidade certamente poderia ser variada, assim como a física de alguns objetos também deixa a desejar.

Em uma jornada muito curta, o jogo entrega uma aventura contemplativa com momentos emocionantes, ficando com um saldo positivo.

Stray
7.5
Prós
  • Enredo simples, mas interessante
  • Excelente visual
  • Puzzles funcionam
  • Momentos de furtividade são legais
Contras
  • Bugs na física
  • Em alguns momentos fica pouco interessante
  • Jogabilidade poderia ser melhor