O game de Playstation 4 chegou em 8 de novembro de 2019 e deve chegar para PC neste ano de 2020, sendo um dos lançamentos mais aguardados do ano passado e sendo acompanhado pelo prestigiado nome de Hideo Kojima. Mas, antes de efetivamente começar a falar sobre Death Stranding, é imprescindível falar sobre como surgiu o game.

Um cancelamento

O aclamado criador da série Metal Gear Solid, Hideo Kojima, estava secretamente desenvolvendo um novo título da série de survival-horror Sillent Hill em 2014. No final de um jogo de terror chamado P.T, disponibilizado gratuitamente na PSN, um teaser do novo game de Sillent Hill era mostrado, com promessas de colaboração entre Kojima, o grande diretor cinematográfico Guillermo del Toro e do ator Norman Reedus, cuja atuação seria capturada para dentro do game. Sob circunstâncias ainda não muito esclarecidas, o grande novo jogo de Sillent Hill foi cancelado, o game P.T se tornou indisponível e Hideo Kojima rompeu com a Konami. Isso resultou na criação de uma empresa de games independente por parte de Kojima, a Kojima Productions, que por sua vez tocou a ideia original do game cancelado como Death Stranding, mantendo essa mesma colaboração entre Del Toro e Reedus.

Review: Death Stranding, uma belíssima e memorável confusão

Death Stranding foi revelado através de um trailer extremamente confuso e misterioso. Bom, tratando-se de um Review, temos o direito de revelar o básico e explicar algumas coisas. O jogo se passa em mais um cenário pós-apocalíptico, onde o protagonista é Sam Porter Bridges, um entregador criado à imagem e atuação de Norman Reedus.

Críticas, conceito e complexidade

É um jogo sobre muitas coisas, sobre a reconstrução de um mundo destruído, sobre um cenário polarizado, agressivo e perigoso de se viver, sobre confiar e ajudar pessoas desconhecidas e traz explícitas críticas a assuntos bem atuais. A história apresenta uma crítica à política de Donald Trump quanto a criação de muros e divisão de pessoas, por exemplo, ou ainda por um lado completamente diferente, a moeda utilizada dentro do game são "likes" em redes sociais. Mas independente das alfinetadas que Death Stranding dá, o jogo é a princípio confuso, mas ao mesmo tempo muito profundo. De início, você cumpre o papel de um simples entregador andando pelo mundo destruído e entregando pacotes para pessoas aleatórias.

Em Death Stranding, o jogador vivencia uma experiência que envolve sociologia e filosofia, religião e contemplação. Entrar muito em detalhes pode prejudicar sua experiência, que inevitavelmente será no mínimo confusa e emocionante.

O enredo

Essencialmente, a história gira em torno da jornada de Sam Porter Bridges da Costa Leste até a Costa Oeste dos EUA, completamente destruído pelo misterioso acontecimento chamado de Death Stranding. Há então criaturas chamadas de EPs, que saem ao mundo durante fortes chuvas sobrenaturais que fazem com que tudo que a água toca envelheça décadas rapidamente. Sim, parece muita informação e de fato é. O evento Death Stranding fez com que o mundo dos vivos e dos mortos entrasse em uma espécie de colisão. Frente a tudo isso, o restante da humanidade de refugia em grandes cidades ou abrigos, e são através de pessoas como o protagonista Sam, entregadores, que o restante da população consegue receber itens básicos para sobreviver. Esses entregadores, como o Sam e Fragile, podem sentir a presença dos seres EPs, fazendo deles os mais apropriados a se aventurar pelo mundo.

Sam, no caso, se encontra fazendo apenas entregas e contratos por anos já sem contato com a civilização. Até que a presidente dos EUA, que também é mãe de criação de Sam, lhe da uma missão que implica em cruzar o continente para unir cidades pela organização BRIDGES e pela rede chiral, que utiliza materiais e a ligação com o mundo dos mortos para ajudar na comunicação e produção de equipamento para o resto da população.

Além disso, Sam deve ainda resgatar a filha de Bridget, Amelie, presa na costa oeste. Durante essa viagem, os demais personagens são apresentados e esse seria o enredo base de Death Stranding. Contudo, assim como nos demais games de Kojima, sempre há um plot twist e nem tudo é o que parece. A história se desenvolve e as coisas vão ficando cada vez mais estranhas, mas paremos por aqui para evitar spoilers.

Jogabilidade e gráficos

A ação dentro do jogo está nas entregas de pacotes. Pode parecer um tanto quanto monótono, mas não é. O mundo oferece plenos obstáculos para dificultar cada trajeto, sob ameaças constantes dos EPs e do tempo.

Mas o interessante nisso tudo é a rede chiral, que permite acessar estruturas, objetos e equipamentos de cada localidade que outros jogadores ali usaram em sua própria trajetória. Ou seja, algo que alguém desconhecido usou ali em outro tempo pode salvar sua vida. Não é exatamente um sistema online inovador, mas certamente é mais desenvolvido do que em Dark Souls, por exemplo. As coisas que você deixa para trás na rede chiral ainda podem receber likes de outros jogadores e se tornarem populares.

A mecânica de jogo então é divertida e envolve puzzles, estratégia, mas pode se tornar um pouco cansativa. Por outro lado, o jogo é uma beldade gráfica e cada cenário pode oferecer o diferencial para não deixar o jogo monótono. Outro destaque é sem dúvida a qualidade das expressões faciais e captura de movimentos, algo sem igual nos videogames. É verdadeiramente possível ver a atuação de cada ator até mesmo nas rugas da pele.

Expressão de Sam in-game
Expressão de Sam in-game

Death Stranding é projetado de tal forma que você está constantemente tomando pequenas decisões. Você deve cortar um acampamento cheio de inimigos, ou tomar uma rota mais longa e mais dura sobre as montanhas? Você deve carregar pacotes que vão pesar, mas vai pagar se você puder entregá-los com sucesso? Você deve carregar suprimentos que facilitarão a navegação, ou manter-se flexível o suficiente para pegar qualquer coisa que você encontrar na estrada? Até o ato de caminhar requer uma boa quantidade de foco, com um apertar de um botão de gatilho necessário para mudar o peso de Sam toda vez que ele dá um passo errado.

As falhas

Bom, graficamente o jogo é espetacular, a história também é bem desenvolvida e surpreendente, o universo é bem escrito e pensado, porém, existe bastante informação e a confusão é inevitável. Até aí tudo bem, compreender o universo de Death Stranding não é o maior desafio por aqui. As primeiras 10 horas de jogo são chatas, tediosas, forçando o player a se virar entre o cenário e inimigos sem quaisquer ferramentas que dão a dinamicidade ao game. Vale a pena jogar adiante, mas seria natural esperar que muitos players desistam antes de passar desse começo monótono.

Propaganda do Monster Energy drink  dentro do game
Propaganda do Monster Energy drink dentro do game

Grande parte da história do jogo é explicada em parágrafos complicados, não particularmente interessantes, que são murados em um submenu que você pode acessar quando o jogo é pausado. Existem algumas invasões à gameplay que perturbam um pouco a experiência no game, como propagandas do energético Monster e até mesmo do reality show Ride com Norman Reedus.

Essas falhas são perceptíveis ao longo da gameplay, ou quando você realmente fica entediado ou frustrado no começo, porém, no final do game elas não são nem memoráveis. Não é um jogo para todo mundo certamente, mas é uma obra espetacular, com todos seus acertos e erros.

Conclusão

É realmente difícil falar de Death Stranding sem spoiler e sem detalhar muito personagens e o mundo, no final das contas, desde a parte tediosa e chata até as coisas loucas e reviravoltas, tudo isso compõem em conjunto a experiência que é Death Stranding e não deve ser prejudicada em um Review. É um jogo desafiador, intrigante, confuso, estranho, bonito e certamente não é perfeito. Com todas as falhas, o game se prova ainda mais espetacular ao se pensar nas condições de sua produção. Obviamente não seria perfeito, mas as falhas de alguma maneira são trazidas com um ar "artesanal", e certamente diferenciam Death Stranding de produções de grandes empresas. É um game único que certamente é memorável, porém, pode não ser para todo mundo e com certeza não é para quem busca mais um blockbuster dentre games.