Quase trinta anos depois de os cientistas descobrirem que cometas podem emitir raios X — algo que aconteceu em 1996, durante a passagem do Hyakutake — esse tipo de radiação acaba de ser observado pela primeira vez em um objeto interestelar. O protagonista da vez é o cometa 3I/ATLAS, que vem sendo acompanhado por diferentes observatórios desde julho e acaba de gerar uma descoberta histórica.
Cometa 3I/ATLAS emite raios X pela primeira vez
A detecção foi feita pelo XRISM, telescópio de raios X operado em conjunto pela JAXA e pela ESA. O registro só foi possível agora porque o 3I/ATLAS, desde que foi descoberto, permanecia angularmente muito próximo do Sol, o que inviabilizava observações em raios X. Com o afastamento da região mais brilhante do céu, o equipamento finalmente conseguiu capturar o que os cientistas já suspeitavam: uma emissão fraca, mas consistente, que se espalha por cerca de 400 mil quilômetros ao redor da coma do cometa.
Esse halo energético surge quando o vento solar atinge a nuvem de gás e poeira que envolve o núcleo do objeto. As partículas carregadas arrancam elétrons dos átomos presentes na coma e aceleram outras partículas a níveis suficientes para produzir radiação de alta energia. Honestamente, esse é um processo bem conhecido no caso de cometas do Sistema Solar, mas nunca havia sido observado em um visitante interestelar.
Isso mostra a singularidade do 3I/ATLAS, que já se mostrava mais brilhante, maior e mais ativo que os dois visitantes anteriores: o asteroide 1I/‘Oumuamua e o cometa 2I/Borisov. Agora, ele se torna também o primeiro forasteiro a emitir raios X, um comportamento que ajuda os pesquisadores a entender como materiais de fora do Sistema Solar reagem à influência do Sol.
Ao longo de 17 horas de observações, entre 26 e 28 de novembro, o XRISM registrou assinaturas claras de carbono, nitrogênio e oxigênio no halo detectado. Isso confirma que o brilho realmente veio do cometa e não de fontes externas, como o fundo galáctico ou a atmosfera terrestre. Os cientistas destacam que a consistência do sinal afasta a hipótese de ruído instrumental.
O que vai acontecer agora?
Com o cometa agora em uma posição mais favorável, novos telescópios devem reforçar o monitoramento nas próximas semanas. O 3I/ATLAS se aproxima de sua menor distância da Terra em 19 de dezembro, quando ficará a cerca de 270 milhões de quilômetros do planeta, o que é longe o suficiente para não representar risco, mas perto o bastante para observações mais profundas.
A tendência é que o cometa continue oferecendo novas pistas sobre sua composição, seu comportamento e a física envolvida quando um corpo vindo de outro sistema estelar interage pela primeira vez com o ambiente solar.
Cometa 3I/ATLAS é flagrado em imagens inéditas pela NASA
A NASA divulgou imagens inéditas do misterioso cometa 3I/ATLAS. Ele foi detectado em julho e, desde então, mobilizou quase vinte equipes de missão para acompanhar sua trajetória. Agora, o fenômeno ganhou ainda mais destaque porque o cometa passou próximo de Marte e fez com que sondas e orbitadores da NASA fizessem uma pausa nas atividades diárias para tentar capturar qualquer pista possível sobre o objeto.
Embora nenhuma das câmeras espaciais tenha sido criada para registrar um cometa interestelar em alta velocidade, cientistas não queriam desperdiçar essa chance. Imagens capturadas por sondas como Solar Terrestrial Relations Observatory, Psyche e Lucy ajudaram a reconstruir a trajetória e a velocidade impressionante do 3I/ATLAS. A Parker Solar Probe, SOHO, PUNCH e outros observatórios solares também registraram o objeto antes de sua aproximação ao planeta vermelho.
Quando o cometa se aproximou do Sol, a Terra estava no lado oposto da estrela, dificultando observações terrestres. Já Marte estava no ponto perfeito. O Mars Reconnaissance Orbiter conseguiu imagens de perto, enquanto o rover Perseverance registrou o cometa como uma mancha tênue cruzando um céu cheio de estrelas.
Por que o 3I/ATLAS é tão especial
Cometas que nascem no Sistema Solar costumam ter núcleos formados por gelo, poeira e rochas, ou seja, são verdadeiras "bolas de neve sujas". Quando se aproximam do Sol, liberam gás e formam caudas que podem ser vistas da Terra. O 3I/ATLAS também apresenta esse comportamento, mas com características que surpreenderam os pesquisadores.
Em vez de liberar principalmente água, como é comum, ele está emitindo mais dióxido de carbono do que H₂O, além de liberar mais níquel do que ferro. Isso sugere que sua composição é diferente da de cometas típicos daqui.
Outro ponto que chamou atenção foram os "jatos" de gás saindo do núcleo. Eles podem indicar regiões especialmente ativas na superfície, mas também levantaram questionamentos sobre uma possível desintegração do cometa durante sua aproximação ao Sol. As missões ainda tentam entender o fenômeno.
Nenhum sinal de tecnologia extraterrestre
Inicialmente, rumores chegaram a sugerir nas redes sociais que o objeto poderia ser uma espaçonave alienígena, mas a NASA tratou de encerrar o assunto. Para os pesquisadores, tudo o que se sabe sobre o 3I/ATLAS aponta para um cometa natural, com aspecto e comportamento semelhantes aos que já conhecemos, ainda que com ingredientes um pouco diferentes.
Ainda não se sabe exatamente o tamanho do núcleo do cometa, mas estimativas apontam que ele mede entre algumas centenas de metros e alguns quilômetros. Mais fascinante que isso é sua idade provável. Pela velocidade e pela rota que segue, cientistas acreditam que ele seja muito mais antigo que qualquer objeto do nosso Sistema Solar.
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