O cometa interestelar 3I/ATLAS está dando um verdadeiro show de mistérios no Sistema Solar. Depois de mudar de cor pela segunda vez e apresentar uma aceleração que não pode ser explicada apenas pela gravidade, o objeto vem intrigando astrônomos do mundo todo. O fenômeno foi descrito em um novo artigo publicado no servidor científico arXiv, que ainda aguarda revisão por pares, e pode trazer pistas sobre a origem dos cometas.
Um cometa que muda de cor?
Durante sua aproximação máxima com o Sol, em 29 de outubro, o 3I/ATLAS ficou temporariamente invisível da Terra. Quando voltou a ser observado, astrônomos notaram algo inédito: o cometa estava mais azul e também muito mais brilhante, o que chamou muito a nossa atenção e acabaram influenciando uma série de hipóteses e teorias que justificassem esse comportamento.
As observações feitas pelos telescópios STEREO (NASA), SOHO (NASA/ESA) e pelo satélite GOES-19 (NOAA) mostraram um aumento súbito de brilho e uma tonalidade azulada mais intensa que a do próprio Sol.
Essa mudança de cor indica reações químicas na superfície provocadas pelo aquecimento solar. À medida que o cometa se aproxima da estrela, o calor faz com que gases e poeira sejam ejetados, alterando o aspecto do material visível.
Aceleração está desafiando a gravidade
Além da mudança visual, o 3I/ATLAS surpreendeu os cientistas por outro motivo: ele está acelerando de um jeito que a gravidade não explica. Segundo o engenheiro Davide Farnocchia, do Laboratório de Propulsão a Jato (JPL/NASA), o cometa apresenta uma "aceleração não gravitacional" medida a cerca de 203 milhões de quilômetros do Sol.
A hipótese mais provável é que essa força extra venha da ejeção de gases e poeira de dentro do núcleo. Ao liberar material em alta velocidade, o cometa funciona como um pequeno foguete natural, impulsionando-se pelo espaço e perdendo massa no processo.
Os cálculos sugerem que o 3I/ATLAS pode perder até 10% da sua massa total nos próximos meses, criando uma imensa pluma de gás e poeira.
O que esperar agora?
A sonda JUICE, da Agência Espacial Europeia (ESA), que originalmente tem como missão estudar as luas de Júpiter, deve aproveitar sua rota para investigar o 3I/ATLAS nas próximas semanas. Os cientistas esperam que a sonda consiga detectar sinais da pluma de gás e fornecer dados inéditos sobre a estrutura e a composição do cometa interestelar.
O 3I/ATLAS deve voltar a ficar visível esta semana, e os cientistas acreditam que ele pode aparecer ainda mais brilhante do que antes da passagem atrás do Sol. Mas nada é certo: o brilho pode aumentar, estabilizar ou até desaparecer rapidamente, tudo depende de como o núcleo reagiu ao calor extremo.
Possibilidade de ser uma sonda alienígena?
O famoso astrônomo Avi Loeb, de Harvard, reacendeu uma teoria polêmica: a de que o 3I/ATLAS poderia ser uma sonda alienígena disfarçada. Ele já havia sugerido algo semelhante sobre o ‘Oumuamua.
Mas, novamente, a comunidade científica descartou completamente essa hipótese, apontando que todos os dados observados até agora são compatíveis com comportamentos naturais de cometas, especialmente os vindos de fora do Sistema Solar.