A novela sobre quem tem o verdadeiro direito de usar a marca "iPhone" no Brasil ganhou mais um episódio e desta vez, com um desfecho inesperado para a Apple. Por unanimidade (5 a 0), a Gradiente venceu um recurso no Supremo Tribunal de Justiça (STJ) que anulou uma decisão anterior favorável à gigante norte-americana no Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2), em outubro de 2024.

A história do "iPhone brasileiro"

O imbróglio começou em 2000, quando a IGB Eletrônica, dona da Gradiente, entrou com um pedido de registro da marca "Gradiente Iphone" no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial). O registro foi concedido apenas em 2008, um ano após o lançamento oficial do primeiro iPhone da Apple, que chegou ao Brasil em setembro de 2007.

Gradiente iPhone, lançado pela empresa brasileiro em 2002.
Gradiente iPhone, lançado pela empresa brasileiro em 2012. Imagem: Reprodução

Com a marca oficialmente registrada, a Gradiente lançou seu próprio "iPhone" em 2012, o que imediatamente acendeu o sinal de alerta em Cupertino. Desde então, a disputa judicial não parou mais.

Apple venceu uma… e perdeu outra

Em outubro de 2024, a Apple havia conseguido duas vitórias importantes no TRF-2, que decidiu a favor da empresa nos pedidos de nulidade da marca da Gradiente e também na tentativa de declarar a marca brasileira como "caduca". Mas o novo parecer do STJ anulou esse cenário, e agora a decisão volta à estaca zero.

O ponto central da discussão gira em torno do direito de uso da palavra "iPhone" de forma isolada. A Apple argumenta que, mesmo que a Gradiente tenha registrado "Gradiente Iphone", o nome "iPhone" por si só já era associado globalmente à sua marca antes mesmo da concessão oficial no Brasil. Já a Gradiente afirma que seguiu todos os trâmites legais e que o INPI não poderia ter ignorado o pedido feito em 2000.

STF será o capítulo final?

A disputa agora se concentra no Supremo Tribunal Federal (STF), onde o caso ganhou status constitucional. Em votação no plenário virtual, a Apple chegou a abrir vantagem com cinco votos favoráveis contra três da Gradiente. No entanto, o ministro Dias Toffoli pediu o julgamento em plenário físico, o que reabre a possibilidade de votos serem alterados antes do encerramento.

Até o momento, o STF ainda não marcou data para a retomada do julgamento. Enquanto isso, a Apple tenta manter o uso exclusivo do nome "iPhone" no Brasil, e a Gradiente mira não só o direito sobre a marca, como também uma possível compensação bilionária, caso o STF determine que a Apple deve pagar pelo uso da marca durante todos esses anos.

Um detalhe curioso dessa disputa: o ex-presidente Michel Temer atua como advogado da Gradiente no processo que tramita no STF. Sua entrada no caso chamou atenção do mercado e elevou ainda mais o tom político e estratégico da batalha jurídica.

O que está em jogo?

Se a Gradiente vencer no STF, a Apple pode ser obrigada a:

  • pagar uma indenização proporcional às vendas do iPhone no Brasil;
  • negociar o direito de continuar usando o nome "iPhone" por aqui;
  • ou até mesmo rebatizar seu principal produto no mercado nacional, caso opte por não pagar.

Mesmo que pareça improvável a última opção, o risco jurídico e financeiro é real e pode abrir precedentes para outras disputas envolvendo gigantes da tecnologia e marcas locais.

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