Em 2023, eu morava em uma cidade pequena do interior de Minas Gerais. Sabe aquele tipo de lugar onde todo mundo se conhece, mas ninguém tem uma loja decente de eletrônicos? Pois é. Lá não tem Casas Bahia, nem Magalu, nem Americanas. Se você precisa de um teclado ou um fone, até encontra. Mas se for algo mais técnico, como uma fonte de PC ou um monitor, esquece. Ou você dá um jeito ou fica na mão.
E foi exatamente isso que aconteceu comigo. Vem que eu vou te contar a decepção que eu tive com a Multilaser.
Quando o monitor queimou, só restou uma escolha
Eu trabalho em casa, o dia inteiro em frente ao computador. Um belo dia, meu monitor queimou. Era um modelo simples da LG, Full HD, que sempre me atendeu bem. Simplesmente não ligava mais. Suspeitei que fosse um problema nos capacitores, mas como eu não manjava nada de eletrônica na época e também não encontrei ninguém na cidade que pudesse me ajudar, decidi não arriscar.
A única alternativa que encontrei foi comprar uma TV e usá-la como monitor. Era isso ou parar de trabalhar.
As duas opções que encontrei (e o erro que cometi)
Fui até a única loja de eletrônicos da cidade. Havia só duas opções:
- uma LG 4K de 50 polegadas, bem além do que eu precisava.
- e uma Multilaser TL022 de 32 polegadas, Full HD.
Como eu só precisava de uma tela para trabalhar e queria economizar, optei pela Multilaser. A ideia era simples: seria uma solução temporária. Mal sabia eu o que estava por vir.
O começo dos problemas
Instalei a TV, conectei ao PC via HDMI e voltei à rotina. Mas bastaram alguns dias para o primeiro sintoma estranho aparecer: uma tarja começou a surgir na parte inferior da tela, como se alguém estivesse apertando o botão "input" do controle remoto sem parar. Ela exibia as opções de entrada da TV — HDMI1, HDMI2, AV, antena etc.
No início, aparecia de vez em quando e sumia. Depois, começou a aparecer com mais frequência. E logo ficou fixa. Toda vez que eu ligava a TV, lá estava a tarja. E pior: isso acontecia só quando eu usava qualquer equipamento via HDMI — seja meu computador, seja um videogame. No sinal da antena, funcionava normal. Mas eu não comprei uma TV para assistir novela. Comprei para usar como monitor.
Depois de um tempo, nem desligar a TV eu conseguia. Ela religava sozinha segundos depois. Já aconteceu várias vezes de dormir e acordar com a TV ligada a noite inteira.
Primeira tentativa de reparo
Voltei à loja e me orientaram a acionar a garantia da Multilaser. Fiz isso. A empresa pediu que eu enviasse a TV para reparo, com promessa de retorno em até 5 dias úteis. Enquanto isso, uma vizinha me emprestou um monitor de tubo. Sim, em pleno 2023.
A TV voltou. Funcionou por um dia. No segundo, a tarja apareceu de novo.
Voltei à loja. Desta vez, fariam a troca do produto. Esperei mais alguns dias e a nova unidade chegou.
O problema era do produto, não da unidade
A nova TL022 parecia estar ok. Mas bastou uma semana para o mesmo problema reaparecer: tarja fixa na parte de baixo, falhas no uso do HDMI, TV ligando sozinha.
Entrei em contato com a Multilaser de novo. Foi quando me ofereceram um upgrade gratuito: trocariam pela TL024, de 43 polegadas. Aceitei. Era minha terceira TV da Multilaser, e eu já não esperava muito.
Não deu outra: mesmo defeito. Tarja na tela, falhas no HDMI, reinicializações, desligamentos que não funcionam.
Tentei de tudo:
- resetar para os padrões de fábrica
- trocar cabo HDMI (comprei vários, inclusive da própria Multilaser)
- atualizar o sistema com a ferramenta da empresa
Nada funcionou.
É um problema crônico?
Não sei dizer se é um defeito de fabricação, uma falha no sistema (essas TVs da Multilaser rodam uma versão genérica de Linux), ou simplesmente um produto mal projetado. Fato é que tentei de tudo. Procurei técnicos, vi gente sugerindo troca de placa, outros dizendo para desistir. E eu desisti.
Minha conclusão: não vale a pena
Demorei muito para contar essa história. Achei que não fazia sentido, que era só azar meu. Mas no ano passado li uma entrevista do presidente da Multilaser, Alexandre Ostrowiecki, ao Tecnoblog, dizendo que a empresa sofre da "síndrome do vira-lata", termo para dizer que o brasileiro tem preconceito com a Multilaser. Sinceramente? Existe um motivo para isso.
A impressão que eu tenho é que tudo da marca é genérico. Parece reembalado, sem nenhum cuidado técnico real. E quando o problema aparece, nem a assistência consegue resolver. Acionei o Reclame Aqui, mandei mensagem por todos os canais. Nada resolveu.
Na entrevista, Ostrowiecki reconhece que a Multi vende produtos de entrada e intermediários, com preços acessíveis, mas afirma que há um certo desprezo automático por parte do público mais tech ou exigente. Ele também diz que a marca sofre com julgamentos apressados, memes e piadas na internet, que nem sempre correspondem à realidade atual da empresa.
Ou seja, ao falar da "síndrome do vira-lata", o CEO está tentando responsabilizar o preconceito nacional pela imagem ruim da marca, mas para quem já teve uma experiência real frustrante com os produtos, como no seu caso, fica claro que o problema não é só o "preconceito", e sim a qualidade real dos produtos e o atendimento ao cliente.
Hoje, deixo aqui meu alerta: não compre TV da Multilaser. Esses modelos TL022 e TL024 já saíram do mercado (graças a Deus), mas a marca segue vendendo outros modelos por aí, alguns com Android TV, Roku e outras promessas. Além disso, os dois modelos não foram capazes de fazer o simples: reproduzir a imagem de qualquer fonte HDMI, era só isso o que eu precisava. Então, não arrisca. Pode até parecer barato, mas o barato sai muito caro.
Depois de tanta dor de cabeça, fui obrigado a comprar um monitor pela internet. Fiquei com uma TV inútil ocupando espaço e uma frustração que virou aprendizado.
Se esse texto ajudar alguém a não passar pelo que eu passei, já valeu a pena.
E você, já teve alguma experiência negativa com a Multilaser ou com outra marca brasileira? Conta para nós!