Rive é uma adaptação do sub-gênero Shoot 'em up para os moldes de jogos plataforma. Cheio de referências e com bastante humor, pode-se dizer que o título é uma releitura do estilo Run and Gun para os dias modernos.

O jogo todo foi criado pelos três únicos membros da desenvolvedora alemã Two Tribes que inclusive anunciou que Rive será seu último lançamento. Apesar disso, o jogo ainda está sendo atualizado e vai até ganhar uma versão para Nintendo Switch.

  • Estúdio: Two Tribes
  • Gênero: Shoot'em Up
  • Classificação: 10
  • Jogadores Multiplayer: Não possui multiplayer
  • Plataforma: Playstation 4 e PC
  • Desenvolvedora: Two Tribes

RIVE - Veja aqui a ficha técnica completa

História

A história do jogo é pouco desenvolvida e no fundo, a proposta do título não é ser uma inovação narrativa e sim atualizar seu gênero com mecânicas e ideias novas. Durante o jogo, você controla Roughshot, o piloto do tanque-aranha. Você acaba encontrando uma espaçonave enquanto explorava o espaço e a resolve pilhar. Depois de um tempo acaba ficando preso nela e ao tentar fugir, você é impedido por Daryl LLoyd-Lancaster o robô responsável por gerenciar a nave, que faz de tudo para te impedir de alcançar seu objetivo.

É possível perceber que a história existe apenas para motivar o jogador a continuar explorando a nave. Se ela não existisse, o jogo seria apenas um apanhado de fases diferentes apresentando novas mecânicas com inimigos variados. Sendo assim, ela age de maneira a permitir que o shooter tenha um espaço sólido para se desenvolver.

[VÍDEO] RIVE: Análise do jogo

Fora isso, os diálogos são bem interessantes e repletos de referências. O jogo em vários momentos tira sarro de si mesmo e de suas limitações. Provavelmente você não vai cair na gargalhada, mas isso deixa as coisas mais descontraídas.

Jogabilidade

A equipe da Two Tribles tinha muito bem definido o que eles queriam quando desenvolveram o game. Ele é um shooter plataforma simples, linear, com um pouco de humor e ele não tem pretensão de ser nada além disso. Essa simplicidade abre espaço para os jogo brilhar naquilo que ele se propõe a fazer: o combate e o level design.

Em Rive, você controla um tanque com formato de aranha que luta contra hordas de inimigos robóticos. Seu tanque tem uma metralhadora com munição infinita e pode atirar em 360 graus. Inimigos vêm de todas as direções e possuem comportamentos variados: alguns se jogam em você, outros lançam projéteis, mísseis teleguiados, outros ainda só ficam passando pelo mapa como quem não quer nada. Com esses elementos combinados você tem uma receita perfeita para um jogo caótico e frenético. Isso porque a gente nem começou a falar ainda da câmera que chacoalha com impacto.

Os combates durante o jogo são sempre legais e desafiadores. Mas no geral, a diversão decorre por conta do level design. Em alguns momentos é possível que você fracasse miseravelmente inúmeras vezes até conseguir passar certo nível. A quantidade de inimigos diferentes não é tão grande. É uma quantidade razoável considerando-se o tamanho do jogo e o fato de ter sido feito por três pessoas. Mas claro que ia ser legal ter uma variedade maior.

Sabendo desse possível defeito do jogo, os desenvolvedores resolveram optar por criar fases mais interessantes que conseguissem criar novas mecânicas de jogo, mas principalmente aproveitar bem a interação entre as mecânicas implementadas. Até o final do jogo novas formas de jogar serão introduzidas e mesmo aquelas que já são conhecidas acabam sendo exploradas de forma diferente. Essa criatividade traz renovação ao jogo, que não se torna chato ou repetitivo. Claro que nem tudo é perfeito e a fórmula usada fica evidente e se você prestar atenção, vai entender como o jogo na verdade se repete de maneira disfarçada. Mas isso foi feito com cuidado e não impacta de verdade a experiência do jogador.

Vale citar e elogiar novamente a preocupação dos desenvolvedores com o Level Design. Não somente as fases são bem exploradas em busca de testar o jogador e seu entendimento das mecânicas das habilidades, mas também é notável a intenção de permitir que cada fase tenha sua maneira otimizada de ser jogada num cenário de competições de speedrun. O comportamento bem definido dos inimigos e das lutas permite ao jogador planejar minuciosamente como reduzir ao máximo o tempo no cronômetro.

[VÍDEO] RIVE: Análise do jogo

Talvez um sistema de aprimoramentos mais bem implementado teria sido positivo pois poderia trazer mais diversidade ao combate. Mas até isso acaba contribuindo para a velocidade frenética do jogo já que o jogador praticamente nem vai parar para estudar seus possíveis aprimoramentos e seu impacto no jogo - que é muito baixo, diga-se de passagem.

Apesar da campanha bem curta que deve durar no máximo umas 7h, a Two Tribes apostou em rankear os jogadores pela pontuação nas missões da campanha e nos modos anexos de jogo para aumentar o fator de replay de Rive. Assim, jogadores poderão ir em busca de conquistas especiais e tentar obter posições melhores em um rank global de jogadores de Rive. Através dos modos Speed Run que adiciona um timer às missões e Single Credit onde você só tem uma vida, poderá fazer com que o título renda muito mais do que as horas necessárias para finalizar a campanha.

O jogo em si é difícil por natureza e esse é o objetivo do título. Mesmo no modo normal você ainda vai encontrar desafios. Jogar Rive no modo difícil não é diferente de jogar no modo Normal em termos de mecânica ou da inteligência artificial dos inimigos. O que muda são os multiplicadores do jogo como a quantidade de health perdida nos ataques, a vida que os inimigos têm, quanto de HP você recupera com os orbs de vida etc. Em alguns momentos o jogo chega a lembrar a dificuldade de Super Meatboy, onde você repete trocentas vezes a mesma fase e morre sempre no mesmo lugar até que faça a luta de maneira impecável.

Apesar de morrer várias vezes, os checkpoints são bem generosos e o jogo costuma te dar uma colher de chá fazendo com que munição para sua habilidade especial e orbs de vida sejam dropados pelos inimigos quando você renasce.

Gráficos

Em seus gráficos e na aparência, Rive conta com simplicidade e boa execução, tudo para conseguir ampliar ainda mais a sensação caótica das batalhas. Vemos novamente um princípio bem utilizado que é o de diferenciar a saturação e o tom das cores do ambiente e dos elementos envolvidos na mecânica principal, no caso as batalhas.

Em Rive esse princípio é aprofundado e combinado com os efeitos sonoros. Da mesma forma que todo inimigo tem seu som particular, seus ataques possuem respostas visuais bem diferentes, que ajudam o jogador a se guiar no meio de hordas inimigas e entender o que é que está causando dano.

Além da barra de vida, o jogo também conta com outra maneira de informar o jogador sobre sua quantidade baixa de HP, a mesma utilizada em alguns FPS, que é o contorno da tela em vermelho. É uma maneira sutil de, ao mesmo tempo informar a vida do jogador sem que ele precise desviar a atenção das lutas e também deixar o jogo mais difícil, simulando uma debilitação devido aos ferimentos. Devido à natureza do jogo que é tecnológica e robótica, Rive adiciona à essa ideia uma camada de estática, para simular a câmera do tanque aranha falhando. Esse tipo de detalhe pode parecer bobo, mas é a combinação deles que tornam a experiência mais agradável e nesse caso servem até para deixar o universo do jogo mais coerente.

[VÍDEO] RIVE: Análise do jogo

Assim como todos os outros elementos do jogo, a câmera e sua movimentação tem o único propósito de tornar as batalhas mais intensas. Ela acompanha o tanque em sua movimentação - e ele se movimenta o tempo todo então a câmera não para quieta - e ela treme com dano sofrido. Já deu para ver que as batalhas têm tudo para virarem um caos.

Apesar do menu de opções gráficas não oferecer nada além da possibilidade de mudar a resolução da tela, você provavelmente não vai precisar. O rodo joga liso até nas batalhas mais intensas e os requisitos mínimos são baixos.

Sonoplastia

O som do jogo foi pensado com cuidado para não sobrecarregar o jogador em momentos mais intensos, mas ao mesmo tempo fornece feedback da batalha de forma satisfatória e do que está acontecendo no ambiente. Por exemplo, é possível ouvir um barulho específico do lado que um certo inimigo vai aparecer ou atacar. Isso as vezes no meio de uma batalha épica pode não ser tão óbvio para o jogador, mas o registro auditivo é realizado e esse tipo de recurso acaba fornecendo mais dinamicidade às batalhas, a noção de causa e efeito dentro do jogo e uma consistência que é importantíssima em jogos.

A Two Tribes optou por não carregar o jogo com efeitos nos áudios para simular o som abafado e metálico que você teria em uma nave. O pós processamento do áudio não foi o foco do desenvolvimento, você não tem oclusão de áudio e ecos, por exemplo. Mesmo assim, você tem um som ambiente condizente com o local, composto por barulhos de fiação elétrica e de origem mecânica. Isso ajuda a dar uma ambientação para o jogo, o que é bem legal já que isso não atrapalha as batalhas em momento algum.

A música é presente na maior parte do jogo, e sua intensidade está diretamente relacionada com a tensão das batalhas. Quanto mais difícil é a luta que você está enfrentando, mais agitada e alta é a música. Sendo assim, ela é notada principalmente nas salas onde as lutas principais e mais difíceis acontecem. Quando a música começa a tocar mais alto, você sabe que vem coisa ruim por aí. Ela complementa bem esses momentos de maior adrenalina com uma trilha Techno bem variada.

[VÍDEO] RIVE: Análise do jogo

Apesar de possuir tradução para o português, a dublagem só está disponível em inglês. Embora esse possa ser um ponto negativo para muita gente, a qualidade da dublagem é muito boa. Mark Dodson que dublou personagens em Star Wars e nos filmes Gremlins foi o responsável por dar voz aos dois personagens da história. A sua experiência e habilidade podem ser vistas nas falas e na interpretação.

Conclusão

O último título desenvolvido pela Two Tribes não decepcionou. Foi um belo presente de despedida, sendo divertido e bastante desafiador. A campanha é bem curta, mas o fator de replay está lá para jogadores que quiserem subir nos ranks globais e coletar conquistas.

Se você é fã do gênero ou curtiu o que viu aqui, provavelmente vai se divertir bastante com o game, mesmo depois da trigésima morte seguida na mesma fase.