Neste final de semana entra em vigor o horário de verão 2015 que ficará ativo até fevereiro de 2016. Até lá, centenas de milhares de pessoas irão se perguntar por que ele foi criado? Se ele funciona? Desde quando ele existe? É em todo o Brasil? Todo o mundo? Por que meu corpo precisa de alguns dias para se adaptar?

Essas e outras questões a partir de agora.

O surgimento da ideia

Como o nome já diz, este modo diferente de posicionar as horas do dia e tentar economizar energia com isso acontece na estação mais quente do ano, pois é a época em que os dias são mais longos e contam com mais luz solar. Isso tudo graças à rotação da Terra  e sua posição em relação ao sol. Aliás, este é um dos conceitos básicos do horário de verão: Ele é útil apenas para regiões distantes da linha do Equador, quanto mais, melhor. Por isso que o sul do Brasil adota a medida, e o nordeste não (a relação horas com sol x horas sem sol não é afetada nestes locais).

A ideia de se aproveitar da inclinação da Terra não é nova, e, na verdade, ela deve ser mais antiga do que você imagina. Ela é criação do inventor, político, cientista, etc. Benjamin Franklin. Ele apresentou a ideia em 1784, há mais de 230 anos, porém ninguém deu ouvidos a ele. E antes que você se pergunte "Mas por que ele queria economizar energia se na época nem existia a eletricidade?", eu lhe respondo: Porque energia não significa eletricidade, é claro :p

Estamos acostumados a pensar em energia e ver o termo "eletricidade" surgir na mente, porém energia pode ser de muitos outros tipos, como a cera das velas, que Franklin queria, originalmente economizar, ou o carvão, primeiro material a ter seu consumo reduzido pelo horário de verão. Essa experiência aconteceu mais de 130 anos depois da ideia original, e há quase 100 anos atrás, quando, em 1916, a Alemanha, durante a 1ª Guerra Mundial, precisava economizar onde podia.

Aqui no Brasil ele demorou um pouco mais para ser adotado, surgindo pela primeira vez em 1931 e sendo recorrente em todos os anos a partir de 1985. Os estados abrangidos por lei (que data de 2012) e fazem parte deste sistema são Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Tocantins e no Distrito Federal (Tocantins há alguns anos não entra no HV, e a Bahia já experimentou uma vez, desistindo no ano seguinte). A lei também tratou de regular quando ele entra em vigor e quando ele sai de cena: Segundo o mesmo dispositivo legal ele começa na zero hora do terceiro domingo do mês de outubro de cada ano, estendendo-se até a zero hora do terceiro domingo do mês de fevereiro do ano seguinte, exceto quando este domingo de término da medida coincidir com o Carnaval, caso em que é postergado para o próximo final de semana.

Hoje, grandes países como boa parte do Brasil, Canadá, Europa, Estados Unidos adotam o sistema, enquanto inúmeros outros adotaram e desistiram, ou então, alguns outros ainda nunca o adotaram (basicamente aqueles alinhados ao Equador).


Em azul os que atualmente adota, em laranja os que já adotaram e removeram e em vermelho os que nunca implantaram

Como funciona?

A ideia geral é fazer com que o país consuma menos, ligando menos aparelhos na tomada ao mesmo tempo. Funciona assim: Adiantando o relógio em 1 hora, quando na verdade seriam 19 horas e começaria a cair a noite,fará com que este princípio de anoitecer só aconteça às 20 horas. O que se busca na prática é fazer com que a forte demanda da iluminação pública e das pessoas ligando as lâmpadas e os chuveiros de suas casas após chegarem do trabalho não coincida com o horário que as empresas estão na ativa (geralmente até às 18h), demandando e consumindo muita energia.

Exemplo: A cidade X tem uma empresa que consome 2 mil KWh para funcionar. Se anoitecer cedo no inverno, teremos o consumo de 2 mil KWh da empresa X + os 3 mil KWh de iluminação pública que entra em campo no cair da noite + as tantas lâmpadas que são ligadas assim que o sol começa a ir embora + chuveiros dos trabalhadores que retornam ao lar e querem relaxar, etc. resultando em uma quantia considerável de energia necessária para que tudo permaneça ligado. Agora, se o horário de verão está implementado, a empresa X irá desligar suas máquinas enquanto ainda é dia, as pessoas não irão ter (em grande parte das residências) chuveiro e lâmpadas ligados ao mesmo tempo e só depois é que os postes das ruas serão ligados. Ou seja, no primeiro exemplo tudo era ativado simultaneamente, enquanto que no segundo cada um será executado na sua vez, sem comprometer a geração de energia por demanda uma superior à oferta.

Os resultados são analisados e publicados anualmente pela ONS - Operador Nacional do Sistema Elétrico - em seu site. Em 2012/2013, por exemplo, o local que mais economizou energia em relação a um período sem horário de verão foi o Rio Grande do Sul (4,9%), justamente o estado mais ao sul e, oprtanto, mais distante da Linha do Equador. BINGO!

Ao todo estima-se que a economia passe, geralmente, dos 200 milhões de reais por ano, e se poupe 3 mil megawatts (o que corresponde a mais de 3 turbinas de Itaipu descansando).

Questões biológicas

Atualmente o grande argumento daqueles que são contra o horário de verão é as alterações biológicas que são causadas nas pessoas. Calcula-se em 10 dias o tempo necessário para que o nosso corpo se adapte à nova situação. Enquanto isso, os sintomas mais comuns são as crises de enxaqueca e de mau-humor.

E como se não bastasse o drama hormonal mensal, as mulheres são as mais afetadas pela mudança de clico do HV, expressando, principalmente, através de problemas emocionais. Segundo Paulo Camiz, professor e clínico-geral do Hospital das Clínicas, em São Paulo, "Até mesmo o hábito intestinal pode ser alterado, já que muitas vezes ele está atrelado ao ciclo do sono e vigília".

Os problemas surgem, principalmente, por causa da melatonina, hormônio usado na indução do sono que é liberado pelo cérebro quando há aquele ambiente escuro propício para uma boa noite de sono. Por isso nosso corpo sofre ao acordar e ver que ainda está escuro (como acontece em parte dias do horário de verão) e quando tentamos dormir à noite, mas não conseguimos. Sim, o inverso também acontece: como escurece mais tarde, nosso corpo vai demorar mais para produzir a tal substância e, consquentemente, nos fazer sentir sono.

Acredite ou não, mas esta é uma discussão séria, chegando, inclusive, no Congresso Nacional. Hoje há 3 projetos de lei que tentam abolir o HV no Brasil tramitando por lá. Os argumentos dos deputados é que enquanto o benefício energético não atinge toda a população, os malefícios da troca de ciclos afetam a todos, principalmente aos idosos que já tem a imunidade mais baixa.

E aí, você é do time que se posiciona a favor ou contra o horário de verão? Deixe-nos um comentário sobre sua adaptação; se ela é fácil ou difícil, se você mora em região que adota o sistema ou não, etc.