Já faz um ano desde que a "taxa das blusinhas" começou a valer, e os números mostram que o impacto foi direto no bolso do consumidor. As compras internacionais de pequeno valor — aquelas feitas em sites como Shein, Shopee, Temu e AliExpress — despencaram ao menor nível desde 2021. Segundo o Banco Central, os brasileiros gastaram US$ 4,6 bilhões em importações no primeiro semestre de 2025, uma queda de 13,6% em relação a 2024.

Como a nova taxa afetou o bolso do consumidor

A chamada "taxa das blusinhas", criada em agosto de 2024, determinou que todas as compras de até US$ 50 — antes isentas — passassem a pagar 20% de imposto de importação. E tem mais: produtos entre US$ 50 e US$ 3 mil continuam sendo taxados em 60%, como já era antes. Fora isso, ainda há o ICMS, que varia de 17% a 20%, dependendo do estado.

O resultado é que o preço final sobe, e aquele desconto que parecia imperdível vira uma conta cara.

Se por um lado as compras internacionais caíram, por outro, a arrecadação aumentou. Em 2024, a Receita Federal arrecadou R$ 2,7 bilhões com o imposto de importação sobre remessas internacionais, uma alta de 40,7% em relação ao ano anterior.

Varejo nacional cresceu

Brasileiros estão comprando mais no varejo nacional. Imagem: Reproução

Com os produtos internacionais mais caros e demorados para chegar, muitos brasileiros voltaram a comprar em lojas nacionais. Dados do IBGE mostram que, no terceiro trimestre de 2024, as vendas de vestuário no Brasil cresceram 6%. No mesmo período:

  • a Riachuelo vendeu 11% a mais
  • a Renner cresceu 12%;
  • e a C&A teve alta de 19% nas vendas.

Outro dado interessante é que o ecommerce nacional, mesmo com queda nas importações, fechou o ano de 2024 com crescimento de 10% no faturamento, segundo a ABComm (Associação Brasileira de Comércio Eletrônico). Isso mostra que os consumidores migraram para vendedores locais.

Classe C, D e E foram as mais impactadas

Os brasileiros que mais sentiram o peso da nova taxa foram os das classes C, D e E. De acordo com a Amobitec, associação de empresas de tecnologia e mobilidade, 14 milhões de pessoas dessas faixas de renda deixaram de importar produtos nos primeiros oito meses após a taxação. O recuo foi de 35% nas compras internacionais dessas classes.

O presidente da ABComm, Fernando Hidalgo, diz que o prazo de entrega passou a pesar mais na decisão: "Se o preço não for muito mais alto no Brasil, o consumidor prefere receber logo o produto. A vantagem do preço já não é tão grande como antes."

Como a Shein, Shopee Temu estão fazendo?

Com a queda nas importações, plataformas como Shopee, Shein e Temu também começaram a se mexer. A Shopee, por exemplo, já tem mais de 90% das suas vendas feitas por vendedores locais. Shein e Temu seguem o mesmo caminho e estão recrutando lojistas brasileiros para vender dentro do app, o que também ajuda a escapar das taxas internacionais.

O programa Remessa Conforme, criado para organizar esse processo, permite que empresas como Shein e Shopee recolham os tributos antes mesmo da compra chegar ao Brasil. Isso agiliza a entrega, mas não livra o consumidor do imposto.

Com informações de Folha de S. Paulo