Após um hiato de quatro meses, o Google voltou a exibir a cotação do dólar e de outras moedas em sua plataforma de buscas. A funcionalidade, amplamente utilizada por brasileiros para consultas rápidas, havia sido retirada do ar no final de dezembro do ano passado, após apresentar valores incorretos durante feriados e finais de semana, quando os mercados tradicionais estavam fechados.

O caso gerou repercussão nacional, levantando dúvidas sobre a confiabilidade das informações financeiras exibidas por grandes plataformas tecnológicas. A seguir, entenda o que causou a falha, quais foram os impactos e como o Google pretende evitar novos erros.

O que aconteceu com a cotação do dólar no Google?

No dia 25 de dezembro, o Google surpreendeu os usuários ao exibir uma cotação do dólar acima de R$ 6,40 — valor muito superior ao registrado no último dia útil anterior, 23 de dezembro, quando a moeda norte-americana fechou a R$ 6,18. Essa discrepância ocorreu em um momento em que o mercado financeiro estava inativo devido ao recesso de Natal, o que levantou questionamentos sobre a origem dos dados.

Esse não foi um caso isolado. Em novembro, o Google também mostrou o dólar a R$ 6,18 enquanto outras plataformas indicavam cerca de R$ 5,86, gerando ainda mais incerteza sobre a confiabilidade do serviço.

Por que os dados estavam errados?

Segundo especialistas do setor financeiro, o erro decorre do uso de fontes alternativas de dados que continuam operando fora do horário comercial — especialmente nos fins de semana e feriados, quando o mercado tradicional está fechado.

José Faria Júnior, CEO da Wagner Investimentos, explicou à CNN Money que a cotação exibida provavelmente refletia negociações em mercados paralelos, como o de criptoativos, que operam 24 horas por dia, 7 dias por semana. Esses mercados, embora legítimos, não representam o valor oficial estabelecido por grandes bancos, corretoras e o Banco Central.

"Se você tem, eventualmente, algum dinheiro em uma plataforma de cripto e quer transformar esse valor em moeda, ele terá uma taxa de conversão própria", afirmou o especialista.

Repercussão institucional: AGU e Banco Central entram em cena

A gravidade da situação levou a Advocacia-Geral da União (AGU) a consultar o Banco Central sobre a possibilidade de "informação incorreta de cotação do dólar" no Google. A intenção era avaliar se os dados errados poderiam afetar decisões econômicas ou jurídicas, inclusive servindo como base para ações da Procuradoria-Geral da União (PGU).

A preocupação da AGU demonstra como a informação financeira incorreta em plataformas de grande alcance pode ter efeitos colaterais sérios, não apenas para cidadãos comuns, mas também para instituições públicas e privadas.

O que o Google mudou para evitar novos erros?

Google volta a exibir cotação do dólar e outras moedas. Imagem: Reprodução
Google volta a exibir cotação do dólar e outras moedas. Imagem: Reprodução

Em comunicado oficial, o Google informou que implementou ajustes significativos e salvaguardas adicionais na exibição da cotação do dólar. As principais mudanças incluem:

  • Bloqueio da atualização de cotações nos fins de semana e feriados, quando o mercado tradicional está fechado.
  • Exibição da fonte dos dados de conversão, promovendo mais transparência.
  • Revisão do acordo com provedores de dados terceirizados, que foram os responsáveis pelas informações equivocadas.

A empresa destacou que os dados exibidos são provenientes de "provedores globais terceirizados de dados financeiros", e que a suspensão da ferramenta foi uma medida preventiva diante das falhas.

Qual a importância de uma cotação confiável?

A cotação do dólar afeta diretamente diversos setores da economia: desde o preço de produtos importados até o custo de viagens internacionais, combustíveis, alimentos e tecnologia. Por isso, exibir valores incorretos pode gerar confusão e até decisões financeiras equivocadas por parte dos usuários.

Além disso, como o Google é uma das fontes mais acessadas do mundo para esse tipo de informação, sua responsabilidade com a exatidão dos dados é ainda maior.