Em 5 de agosto de 1973, a União Soviética lançava ao espaço a sonda Marte 6, como parte de uma ambiciosa série de missões destinadas a explorar Marte. Na época, os conhecimentos sobre o planeta vermelho ainda eram extremamente limitados, e cada nova tentativa trazia não só riscos, mas também grandes esperanças para a ciência.

A missão fazia parte do Programa Marte, iniciado nos anos 1960. Após sete meses viajando pelo espaço, a Marte 6 se aproximou de seu destino no início de março de 1974. Era a primeira vez que uma sonda soviética chegava tão perto de pousar com sucesso e coletar dados diretamente da atmosfera marciana.

Uma descida histórica, mesmo sem final feliz

Representação da sonda soviética Marte 6. Imagem: NPO Lavochkin/Reprodução

Em 12 de março de 1974, a cerca de 48 mil quilômetros de Marte, a Marte 6 liberou um módulo de descida com 635 kg, projetado para atravessar a atmosfera do planeta. A entrada foi veloz, cerca de 5,6 km/s, e o equipamento resistiu bravamente por 224 segundos, transmitindo informações valiosas.

Nesse curto intervalo, foi possível medir a temperatura ambiente de -43°C e detectar concentrações de gases nobres entre 20% e 30%. O paraquedas abriu quase três minutos depois da entrada na atmosfera, ajudando a reduzir a velocidade para 600 m/s.

Infelizmente, o contato com a sonda foi perdido pouco antes do pouso, justamente quando os retrofoguetes deveriam se ativar. Apesar da falha, os dados coletados durante a descida foram fundamentais para futuras missões.

O legado científico da Marte 6

Mesmo sem pousar com sucesso, a Marte 6 trouxe informações inéditas sobre a atmosfera e a superfície marciana. Estima-se que o módulo de descida tenha atingido a região de Argyre Planitia, uma das maiores bacias de impacto de Marte, localizada no hemisfério sul do planeta.

Argyre Planitia, uma das maiores bacias de impacto de Marte. Imagem: ESA/Reprodução

A sonda principal, após soltar o módulo de descida, foi colocada em uma órbita heliocêntrica, ou seja, ao redor do Sol, com duração de cerca de 567 dias. Isso permitiu que cientistas estudassem os efeitos de longas jornadas espaciais em equipamentos e comunicações interplanetárias.

Para a época, o feito era notável. Cada missão que se aproximava de Marte trazia uma nova peça para o quebra-cabeça de entender o planeta vizinho, incluindo sua atmosfera, clima e até as condições para uma eventual vida.

Como a Marte 6 mudou o caminho para o futuro

A partir da Marte 6, a União Soviética ainda lançou outras missões importantes, como a Marte 3, que conseguiu enviar a primeira imagem (embora borrada) da superfície marciana. Mais tarde, nos anos 1980, a parceria com a Europa rendeu as missões Phobos 1 e 2, que chegaram mais perto de estudar as luas de Marte.

Essas tentativas pioneiras, embora nem sempre bem-sucedidas, abriram as portas para o sucesso das missões norte-americanas, como a Viking 1, o Mars Pathfinder, o Opportunity e, mais recentemente, o Perseverance.

Podemos concluir então que a missão Marte 6 nos lembra que a ciência avança mesmo com os tropeços. Cada tentativa, cada dado recuperado, cada falha, contribuiu diretamente para a tecnologia espacial que temos hoje, seja nos rovers que exploram Marte ou nas futuras missões humanas que estão sendo planejadas.

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