Um artigo publicado nesta sexta (11) na revista Nature Astronomy descreve um fenômeno raro: o buraco negro supermassivo Ansky, localizado na galáxia SDSS1335+0728 a 300 milhões de anos-luz da Terra, "acordou" esfomeado após décadas em estado de hibernação.

Ansky começou a emitir luz intensa e flashes periódicos de raios-X, pegando todo mundo de surpresa.

Por que isso é importante?

A partir de fevereiro de 2024, cientistas liderados por Lorena Hernández-García, da Universidade de Valparaíso, no Chile, detectaram explosões regulares vindas de Ansky. Essas rajadas, conhecidas como erupções quasiperiódicas (QPEs), são extremamente raras e ainda pouco compreendidas.

Destaques do fenômeno:

  • As explosões de Ansky são as mais longas e brilhantes já registradas;
  • Cada rajada libera até 100 vezes mais energia do que QPEs observadas em outros buracos negros;
  • O intervalo entre as explosões é de 4,5 dias, o maior já visto;
  • A intensidade das rajadas está forçando cientistas a repensarem modelos teóricos sobre buracos negros.

Joheen Chakraborty, do MIT e coautor do estudo, destaca:

"É como se o buraco negro tivesse acordado com uma fome monstruosa, nos mostrando um comportamento nunca antes documentado."

O que está causando essa fúria cósmica?

Ainda não há consenso sobre o que provocou o despertar repentino de Ansky. Uma das hipóteses é que um pequeno objeto, como uma estrela anã ou até mesmo um planeta, esteja atravessando o disco de acreção do buraco negro, gerando instabilidades que disparam as explosões de raios-X.

Outra possibilidade é que o disco esteja simplesmente sendo alimentado por gás do ambiente em volta, sem necessidade de uma "vítima" estelar recente.

Uma janela para os segredos do Universo

A observação do despertar de Ansky é considerada uma oportunidade única para entender melhor não apenas a evolução dos buracos negros, mas também a origem das ondas gravitacionais - distorções no tecido do espaço-tempo causadas por eventos extremos.

Erwan Quintin, da Agência Espacial Europeia (ESA), comenta

"Ansky pode ser a peça que faltava para conectar QPEs e a emissão de ondas gravitacionais. A missão LISA da ESA poderá, no futuro, detectar essas ondas diretamente."

Acompanhar em tempo real a fome de Ansky pode nos levar a respostas que mudarão para sempre o entendimento dos eventos mais energéticos do Universo.