"Imagine que os RHs das empresas enxergam seu currículo como uma refeição. As certificações são o molho, sua experiência é a carne, os idiomas adicionais são o tempero e sua formação acadêmica é o prato. (...) É mais interessante para as empresas se você for uma refeição completa". Marco Filippetti, mestre em Engenharia da Computação pelo IPT e especialista em Sistemas da Informação e Telecomunicações pela Universidade da Califórnia (Berkeley) em entrevista à autora.

Larissa Rolim - Marco, vamos começar esclarecendo aos que não conhecem a área Tecnologia da Informação. A TI trabalha com quais áreas?

Marco Filippetti - Tecnologia da Informação (TI) é a área de conhecimento responsável por criar, administrar e manter a gestão da informação através de dispositivos e equipamentos para acesso, operação e armazenamento dos dados, de forma a gerar informações e dados que suportem a tomada de decisão. Neste contexto, T.I. abrange toda a parte de infraestrutura para que esta informação seja gerada, transmitida, armazenada e processada. Isso engloba montagem e operação das máquinas (servidores, PCs e outros elementos), arquitetura, instalação e operação de redes de computadores, programação e operação dos sistemas da informação, dentre outros aspectos e atividades.

 

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Larissa Rolim - Qual a importância das certificações?

Marco Filippetti - Uma certificação em T.I. é um instrumento que, teoricamente, atesta (a quem interessar) que o profissional que a detém é versado em uma determinada tecnologia. É, portanto, uma forma de métrica. Por mais experiente que um profissional seja, se ele não tiver uma certificação reconhecida pelo mercado atestando seu conhecimento ele pode encontrar dificuldades em comprovar esta experiência.

 

Larissa Rolim - Essa importância é avaliada pela quantidade das certificações ou pela qualidade de cada uma?

Marco Filippetti - A importância sempre se dá pela qualidade e pelo reconhecimento do mercado. Isso significa dizer que não adianta um profissional ter 20 certificações desconhecidas, pois o mercado não vai considerá-las relevantes. Profissionalmente, vale mais a pena focar em certificações amplamente reconhecidas não apenas pelo mercado, mas pelos profissionais que nele se encontram inseridos.

 

Larissa Rolim - Marco, existem certificações que são mais exigidas ou melhor avaliadas pelo mercado? 

Marco Filippetti - Certamente. Certificações de grandes fabricantes, por exemplo. A Microsoft, a Sun, a Cisco, a HP e outras tantas empresas possuem linhas de certificações muito bem definidas e reconhecidas pelo mercado. A Cisco, por exemplo, possui uma linha de certificações tão respeitada que é reconhecida até por seus concorrentes. Existem muitos casos de profissionais certificados pela Cisco que são contratados pela Juniper e pela Huawei (concorrentes diretos), por exemplo. Isso mostra a qualidade de tais certificações. Além dos grandes fabricantes, existem algumas entidades independentes de fabricantes que mantém uma linha muito valorizada de certificações. Seriam exemplos a EXIN (certificações de governança de T.I, como ITIL), a PMI (com a certificação PMP, para gerentes de projeto), a CompTIA, a ISC2 (com a certificação de segurança CISSP), dentre muitas outras.

 

Larissa Rolim - As certificações garantem a contratação?

Marco Filippetti - De forma alguma. A certificação vai lhe abrir portas que antes se encontravam fechadas, mas não vai lhe garantir que você as atravesse. Existe uma analogia muito boa, que é a seguinte: imagine que os RH’s (Recursos Humanos) das empresas enxergam seu currículo como uma refeição. As certificações são o molho, sua experiência é a carne, os idiomas adicionais são o tempero e sua formação acadêmica é o prato. Qualquer combinação que você tente fazer não será tão atrativa sem o prato. Ninguém gosta de comer direto da mesa. Da mesma forma, um prato servido sem tempero, ou sem carne não desperta muita vontade. Resumindo, você é mais interessante para as empresas se você for uma refeição completa.

 

Larissa Rolim - E como conseguir uma certificação?

Marco Filippetti - Existem muitas formas. A maioria das certificações disponíveis hoje no mercado não exigem um curso ou algum pré-requisito formal. Ou seja, é possível estudar por conta, bastando obter o material correto de estudo (livros, páginas na web, etc). Depois, é preciso agendar e fazer o exame (e, muitas vezes, pagar por ele, claro). Isso varia de certificação para certificação, mas a grande maioria pode ser agendada online, por meio dos centros parceiros das entidades donas das certificações. Exemplos são a VUE (www.vue.com) e a Prometric (www.2test.com). O custo dos exames varia bastante, também. Existem desde os exames gratuitos aos exames que custam algumas centenas de dólares para serem agendados. As provas, em sua maioria, são feitas em algum centro autorizado, em frente a um computador, mas existem casos em que o exame é prático (como algumas certificações Red Hat Linux, ou o CCIE, da Cisco). Também é preciso atentar para os pré-requisitos, em alguns casos. Por exemplo, as certificações "Professional", da Cisco, exigem que o candidato seja certificado, antes, em nível "Associate".

 

Larissa Rolim - Marco, na sua opinião, quem mais precisa da Tecnologia da Informação? É uma área que deve ser estudada e compreendida por todos?

Marco Filippetti - Em minha opinião, o mundo precisa de T.I. Basicamente, vivemos hoje em um mundo online, conectado, onde todos dependem de aplicações, sistemas e redes. Deveria ser uma disciplina obrigatória em quase todas as formações, atualmente. 

 

Marco Filippetti atua na área de ensino desde 2001 e é, atualmente, proprietário de uma empresa online de treinamento em Redes com mais de 1.800 alunos - a Cloud Campus. Profissionalmente, Marco trabalhou em empresas como KPMG, Deutsche Telekom, AT&T, British Telecom e, recentemente, como Consultor Sênior de Telecom para a Embratel, tendo mais de 17 anos de experiência no mercado de T.I. e Telecomunicações.