Durante esse fim de semana, variadas reportagens da imprensa internacional denunciaram uma empresa que teria usado informações pessoais e privadas de mais de 50 milhões de pessoas do Facebook para fins políticos. A empresa em questão faz análise de dados, e é chamada de Cambridge Analytica, possível acusada como responsável de comprar as informações dos usuários da rede social sem autorização. Tudo isso para obter influência nas eleições americanas de 2016, a fim de beneficiar Donald Trump, o principal cliente da empresa.

As informações foram coletadas por meio de um aplicativo chamado "thisisyourdigitallife" (essa é a sua vida digital, em tradução livre), que funcionava por meio de pagamentos de pequenas quantias a várias pessoas, as quais deveriam fazer um teste de personalidade, concordando em ter suas informações utilizadas para "uso acadêmico".

Além disso, o aplicativo ainda registrava dados de todos os amigos que a pessoa tinha no Facebook, formando um enorme roubo e repasse de informações que não tiveram autorização para serem coletadas pelo aplicativo. Nos termos de uso do Facebook, era permitido a coleta de informações de amigos por terceiros, isso naquele tempo, porém, proibia a venda ou o uso das informações para fins de publicidade.

Foram cerca de 270 mil perfis individuais analisados, com os amigos de cada um deles totaliza 50 milhões de pessoas.

Como o caso funcionou?

Todos os dados colhidos pelo aplicativo foram usados no desenvolvimento de algoritmos que fazem com que publicidades, mensagens, notícias e informações políticas se moldem especificamente ao perfil de cada pessoa. Foi o que a Cambridge Analytica fez para criar a campanha de Donald Trump e moldá-la pelas redes sociais. Foram cerca de 270 mil perfis individuais analisados, com os amigos de cada um deles totaliza 50 milhões de pessoas.

Essas informações recolhidas pelo aplicativo foram vendidas ao Cambridge Analytica, sendo depois usadas para formar mensagens particulares feitas para pessoas com as mesmas opiniões políticas particulares. As informações foram obtidas aos jornais The New York Times e The Guardian através de um ex-funcionário da empresa, Christopher Wylie, pesquisador canadense da área da ciência da computação.

Já o gerente de dados da Cambridge Analytica, Alex Tyler, em uma entrevista dada a um repórter do Channel 4, que se fez passar por um cliente, explicou sobre a coleta de dados:

"Ao coletar dados das pessoas e categorizar o perfil delas, isso te permite segmentar a população, para direcionar mensagens sobre questões que interessam (a cada grupo), usando linguagem e imagens que as possam gerar engajamento. Fazemos isso na Ásia, nos Estados Unidos..."

Nesta mesma gravação, foi dito ainda que a empresa tinha planos de começar a atuar no Brasil por meio de uma parceria com a Ponte CA, para a eleição deste ano, porém, o dono da empresa diz ter rompido o acordo assim que soube do escândalo.

No Twitter, cerca de 6 milhões de pessoas foram alcançadas pelo movimento de usuários do Facebook que demonstraram revolta com através da campanha #deletefacebook, afirmando terem deletado suas contas após toda divulgação.

O valor do Facebook em enorme queda

35 bilhões foi a perda do Facebook só na segunda, 19, na bolsa de valores de tecnologia dos EUA, com as ações reduzidas a 6%. Os índices chegaram a cair tanto, que algumas bolsas tiveram o pior dia em quase 5 semanas. O S&P caiu 1,42%, o Dow Jones 1,35% e a Nasdaq 1,84%. A queda do Facebook acabou afetando outras empresas do ramo da tecnologia, como a Alphabet, que controla o Google, caiu em 3%. A Apple, Netflix e Amazon tiveram perdas de até 1,5%.

O que disse o Facebook?

A rede social afirmou ter sido informada sobre o uso "acadêmico" dos dados dos usuários, e que o acesso às informações foram feitas de forma legal, mas que repassá-las havia sido quebra de regras de fato.

Afirmou também ter apagado o aplicativo com os testes de personalidade em 2015, pedindo que as informações fossem todas deletadas. No entanto, esta carta contendo o pedido só chegou a Wylie na metade de 2016. A Cambridge Analytica diz ter apagado todas as informações assim que souberam que foram colhidas ilegalmente. Porém, segundo o jornal The New York Times, a empresa usou os dados do Facebook para marketing político e ainda mantém muitas informações.

Entrada do prédio da Cambridge Analytica.
Entrada do prédio da Cambridge Analytica. (Foto: Henry Nichols / Reuters)

E ainda: além de tudo, a Cambridge Analytica se envolveu em mais contestações ao ter seu diretor-executivo, Alexander Nix filmado pelo Channel 4, sugerindo táticas controversas para desacreditar candidatos em campanhas.
O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, foi solicitado pela Comissão Parlamentar Britânica a comparecer a fim de esclarecer as suspeitas de uso ilícito das informações pessoais pela empresa de análise de dados.

A chefe da Comissão de Informação do Reino Unido, Elizabeth Denham, anunciou na noite de segunda-feira, 19, que quer conseguir um mandado de busca a fim de coletar informações nos escritórios da empresa Cambridge Analytica.